Quais são as acusações concretas contra Ricardo Nunes, candidato a vice de Covas

Atualizado em 24 de novembro de 2020 às 22:26

Publicado originalmente no Vermelho

O vereador Ricardo Nunes (MDB), à esquerda de Bruno Covas (PSDB); Nunes é vice na chapa encabeçada pelo atual prefeito de São Paulo, candidato à reeleição Imagem: 11.set.2020 – Reprodução/Facebook/ricardonunes.sp

O candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, Bruno Covas, vê o adversário Guilherme Boulos (PSOL) se aproximar nas pesquisas e o seu vice Ricardo Nunes (MDB) acusado de corrupção, radicalismo e agressão doméstica. O empresário, advogado e vereador desde 2013 é alvo de críticas dos opositores e nas redes sociais há pelo menos um mês.

O cuidado com o vice-prefeito é maior pelas condições de saúde de Bruno Covas, que enfrenta um câncer no aparelho digestivo. Embora a doença esteja controlada, é possível que ele precise se afastar em alguma etapa do tratamento imunológico. O próprio Covas deixou a função de vice-prefeito para assumir a prefeitura quando João Dória (PSDB) se candidatou a governador do estado de São Paulo em 2018. Antes de Dória, o tucano José Serra havia feito o mesmo em 2006.

Boulos costuma destacar a presença de Erundina como vice-prefeita na chapa do PSOL e já perguntou em debate na Bandeirantes no dia TAL se Covas colocaria a mão no fogo por Ricardo Nunes. O candidato do PSDB rechaçou as acusações e defendeu o vice, mesmo sem responder diretamente à provocação de Boulos.

Às vésperas do 2º turno das eleições municipais, o Brasil de Fato reuniu as três principais menções negativas a Nunes nas redes e apresenta o que há de concreto, para além dos boatos e especulações.

Corrupção

Embora venda a imagem de “fiscal do dinheiro público” e defenda o “combate à corrupção”, Nunes é alvo de uma investigação da promotoria do Patrimônio Público e Social do Ministério Público do Estado de São Paulo que apura indícios de superfaturamento no aluguel de creches privadas que mantêm convênio com a prefeitura.

Segundo a promotoria, Nunes teria sido favorecido por meio de sua relação com a Sociedade Beneficente Equilíbrio de Interlagos (Sobei), que recebe da prefeitura R$ 329 mil por mês para pagamentos de aluguéis de creches. O vereador nega participação no caso e diz ser apenas “voluntário” da instituição.

Outro caso de favorecimento que veio à tona durante a campanha foi o repasse de R$ 50 mil sem licitação à empresa Nikkey para dedetização de creches. A empresa foi fundada por Nunes em 1997 e tem como sócias a esposa e a filha dele.

As oito creches dedetizadas são controladas pela Associação Amigos da Criança e do Adolescente (Acria). A presidenta da instituição é Eliana Targino, ex-funcionária de Nunes, e o vice-presidente da Acria é José Cleanto Martins, pai de uma assessora do vereador, segundo o jornal Folha de S. Paulo.

Ao jornal, o vereador negou o favorecimento e alegou que os valores cobrados estavam “abaixo dos de mercado”, como “uma forma de ajudar as creches”. Ele também nega que a Acria seja dirigida por aliados.

Ricardo Nunes declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um patrimônio de R$ 4,8 milhões, entre imóveis e aplicações financeiras. Em 2016, ele investiu R$ 450 mil na própria campanha e se reelegeu vereador.

Radicalismo de direita

Fotos com padres, ajoelhado dentro de templos, prostrado diante de imagens católicas: a cada dez postagens nas redes sociais de Nunes, ao menos três contêm menções à religião. O vice de Covas é conservador, ligado à ala carismática da igreja católica e integra a bancada da Bíblia na Câmara Municipal de São Paulo.

O vereador, que atuou junto à prefeitura para garantir que músicas cristãs fossem tocadas em espaços públicos e eventos como a Virada Cultural, assume uma postura radical contra a educação para a igualdade de gênero.

Essa é uma das principais críticas ao candidato a vice. Apoiador do projeto “Escola Sem Partido”, que pretendia censurar os professores e limitar sua autonomia, Nunes defendeu em plenário a retirada do termo “gênero” do Plano Municipal de Educação (PME). A palavra aparecia oito vezes no texto, sempre no sentido de estimular o debate e a tolerância sobre a diversidade.

O PME é o documento que estabelece metas e diretrizes para a educação de crianças com até 14 anos. Nunes argumenta que a “ideologia de gênero” – expressão inventada pela extrema direita para impedir o avanço de debates sobre diretos da população LGBTQIA+ – é “uma coisa nefasta” e visa à destruição da “família tradicional brasileira”.

“Não cabe ao estado, e sim à família, construir os valores que a criança terá”, disse à época.

Especialistas no tema, por outro lado, apontam que a educação de gênero na escola coíbe a discriminação da população LGBTQIA+ e previne feminicídios.

Violência doméstica

A esposa de Ricardo Nunes, Regina Carnovale, denunciou o marido por violência doméstica em 18 de fevereiro de 2011. O Boletim de Ocorrência (BO) foi registrado na 6ª Delegacia da Mulher, em Santo Amaro, zona sul da capital.

Carnovale relatou, à época, que o casal mantivera uma união estável por 12 anos. Sete meses antes da agressão, os dois se separaram “devido ao ciúme excessivo” de Nunes.

“Inconformado com a separação, [Nunes] não lhe dá paz, vem efetuando ligações, proferindo ameaças, envia mensagens ameaçadoras todos os dias e vai em sua casa, onde faz escândalos e a ofende com palavrões”, diz o boletim.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, Carnovale foi às redes sociais em 2015 para questionar o não pagamento de pensão alimentícia à filha. Nas postagens, ela chamou Nunes de “bandido” e “crápula” e disse ter prova das agressões. “Ele sempre me bateu”, relatou.

O casal reatou o relacionamento meses depois. Questionada, a mulher diz que sua conta foi “hackeada” [invadida].

Nenhuma das denúncias avançou e virou processo judicial. O vereador nega as agressões e diz que o BO foi feito em um período em que esposa estava “emocionalmente abalada”.

Covas foi perguntado sobre o tema ao menos duas vezes durante a campanha, e adotou tons diferentes nas respostas.

Em 16 de outubro, durante o 1º turno, o atual prefeito disse que “é inaceitável violência contra mulher” e que Nunes devia esclarecimentos sobre o caso. Na última segunda-feira (23), durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, Covas minimizou o episódio.

“Não há uma denúncia sequer de agressão envolvendo o vereador Ricardo Nunes. Dez anos atrás, teve um desentendimento dele com a Regina, sua esposa, que continua como esposa”, afirmou. “Transformaram ele num agressor”.

A chapa Covas-Nunes lidera as pesquisas de intenção de voto, mas está em queda. A cinco dias do 2º turno, o candidato Guilherme Boulos (PSOL), que tem como vice Luiza Erundina (PSOL), subiu de 42% para 45% das intenções de votos – a preferência pelo atual prefeito caiu de 58% para 55% entre os dias 17 e 23 de novembro, segundo o Instituto data Folha.

O Brasil de Fato convidou Ricardo Nunes para uma entrevista, mas a assessoria de comunicação alegou não ser possível encaixar o compromisso na agenda do candidato.

Fonte: Brasil de Fato