
O Piauí é o estado com a maior temperatura média registrada no Brasil entre 1985 e 2024, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (5) pela plataforma MapBiomas Atmosfera. No período, o estado teve média de 26,9ºC, superando em apenas 0,1ºC o Rio Grande do Norte, que aparece em segundo lugar. Na outra ponta do ranking, Santa Catarina registrou a menor temperatura média, com 17,7ºC.
A pesquisa mostra que, em todo o país, a temperatura média foi de 24,6ºC nos últimos 40 anos — e vem crescendo de forma contínua. Desde 1985, o Brasil aquece a uma taxa média de 0,29ºC por década. “As temperaturas no Brasil vão continuar aumentando enquanto o aquecimento global persistir”, afirmou a pesquisadora Luciana Rizzo, do MapBiomas Atmosfera, em entrevista ao Uol.
Os dados apontam que as temperaturas brasileiras estão consistentemente acima da média desde 2014, com o pico de aquecimento observado em 2023. No ano passado, o país registrou temperatura média de 25,7ºC, cerca de 1,2ºC acima da média histórica.
Em 2024, o aumento foi generalizado: todos os estados brasileiros tiveram elevação entre 0,3ºC e 2ºC em relação à média. “Esse aquecimento constante é um reflexo direto das mudanças climáticas globais, que estão afetando o regime térmico de todas as regiões do país”, explicou Rizzo.
O levantamento reforça que fatores locais, como desmatamento e urbanização acelerada, também contribuem para o aumento das temperaturas. “A vegetação proporciona sombra e vapor d’água, suavizando as variações de temperatura. Sem vegetação, boa parte da energia do Sol é revertida em calor sensível, fazendo a temperatura aumentar, intensificando os efeitos do aquecimento global”, disse a pesquisadora.
Além do desmatamento, as áreas urbanas são apontadas como importantes agentes de aquecimento. “Áreas fortemente urbanizadas são mais quentes do que o seu entorno, formando as chamadas ilhas de calor urbanas. Superfícies impermeáveis, como concreto e asfalto, e a presença de fontes de calor, como veículos e indústrias, promovem aumento de temperatura nas áreas urbanas”, explicou Rizzo.
Esses fenômenos urbanos tornam o impacto do calor mais perceptível em grandes cidades, onde a falta de áreas verdes reduz a capacidade natural de resfriamento. O MapBiomas alerta que, se as tendências atuais persistirem, os centros urbanos brasileiros enfrentarão verões cada vez mais extremos, com ondas de calor mais longas e intensas.
O estudo também revela um padrão geográfico importante: os estados do interior do país, distantes do mar, estão aquecendo mais rapidamente do que as regiões costeiras. O Piauí, o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul registram taxas de aumento de temperatura entre 0,34ºC e 0,4ºC por década — acima da média nacional.

Já os estados litorâneos, como Rio Grande do Norte, Alagoas e Paraíba, apresentam variações menores, entre 0,10ºC e 0,12ºC por década. Segundo Rizzo, a diferença está relacionada à presença da água, que funciona como um regulador térmico natural.
“A presença de água é um fator que atenua as variações de temperatura. Quando o sol aquece uma superfície úmida, parte da energia é utilizada para fazer a água evaporar. Quando o sol aquece uma superfície seca, toda a energia do Sol é convertida em calor sensível, o que faz a temperatura subir”, afirmou.