Quando as “masmorras de Hartung” no Espírito Santo foram denunciadas à ONU. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 10 de fevereiro de 2017 às 16:19
Hartung recebe Aécio na campanha presidencial
Hartung com Aécio na campanha presidencial

 

O primeiro governo de Paulo Hartung foi denunciado à ONU, em 2010, por causa da situação aterradora das cadeias no Espírito Santo.

Seu chefe de polícia era o hoje deputado Fernando Francischini.

Francischini saiu de lá para ser secretário de Segurança do Paraná. Acabou demitido depois que sua PM soltou cachorros sobre professores. Delcídio citou seu nome numa delação premiada.

As fotos tenebrosas dos presos estavam no site do Estadão. O link do jornal para o relatório, hoje, dá numa página não encontrada. Ele pode ser encontrado aqui.

À época, Elio Gaspari escreveu sobre o caso num artigo intitulado “As masmorras de Hartung aparecerão na ONU”.

Ei-lo:

NA PRÓXIMA segunda-feira, dia 15, o governador Paulo Hartung (PMDB-ES) tem um encontro marcado com o infortúnio. Depois de anos de negaças, o caso das “masmorras capixabas” será discutido em Genebra, num painel paralelo à reunião do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Hartung tem 52 anos, um diploma de economista e a biografia de um novo tipo de político.

Esteve entre os reorganizadores do movimento estudantil no ocaso da ditadura. Filiou-se ao PSDB, ocupou uma diretoria do BNDES, elegeu-se deputado estadual, federal, e senador.

Na reunião de Genebra estará disponível um “dossiê sobre a situação prisional do Espírito Santo”. Tem umas 30 páginas e oito fotografias que ficarão cravadas na história da administração de Hartung. Elas mostram os corpos esquartejados de três presos.

Um, numa lata. Outro em caixas e uma cabeça dentro de um saco de plástico. Todos esses crimes ocorreram durante sua administração. Desde a denúncia da fervura de presos no Uzbequistão o mundo não vê coisa parecida.

As “masmorras capixabas” são antigas, mas a denúncia teve que ser levada à ONU porque as organizações de defesa dos direitos humanos não conseguem providências do governo do Espírito Santo, nem do comissariado de eventos de Nosso Guia.

Sérgio Salomão Checaira, presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, demitiu-se em agosto do ano passado porque não teve apoio do Ministério da Justiça para reverter o quadro das prisões de Hartung.

Há um mês, uma comitiva que visitava o presídio feminino de Tucum (630 presas numa instituição onde há 150 vagas) foi convidada a deixar o prédio. Se quisessem, poderiam conversar com as prisioneiras pelas janelas.

O Espírito Santo tem 7.000 presos espalhados em 26 cadeias, com uma superlotação de 1.800 pessoas. Há detentos guardados em contêineres sem banheiro (equipamento apelidado de “micro-ondas”). Celas projetadas para 36 presos são ocupadas por 235 desgraçados. Alguns deles ficam algemados pelos pés em salas e corredores.

Os governantes tendem a achar que os problemas vêm de seus antecessores, que as soluções demoram e que, em certos casos, não há o que fazer. Esquecem-se que têm biografias.