Quando o mundo moderno se iniciou

Atualizado em 24 de maio de 2013 às 16:40
Bravura na morte

 

Geralmente o início da era moderna é atribuído aos franceses quando depuseram e guilhotinaram Luís 16.

Os ingleses ficam incomodados. E com razão.

Mais de um século antes, eles liquidaram espetacularmente a monarquia absoluta. Carlos I foi enfrentado pelo Parlamento, derrotado numa guerra civil de quatro anos e executado em 1648.

É um episódio fascinante. Só não tem a dimensão da Revolução Francesa porque faltaram a ele três palavras que eletrizaram o mundo em 1789: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Carlos I, da dinastia Stuart, se não teve um reinado notável, morreu de forma extraordinária. Foi um bravo, um estóico quando a sorte virou.

Ele estava jogando xadrez quando recebeu uma carta que lhe comunicava a prisão. Suas forças militares já tinham sido derrotadas. Ele leu a carta e voltou a jogar como se nada estivesse acontecendo. Em outra ocasião, recebeu a visita de um oficial inimigo que anunciou ter ordens para transferi-lo. “Cadê as ordens?”, ele perguntou. “Ali”, disse o oficial E indicou com os braços um pelotão de soldados, à frente da casa em que o rei estava. “Bonitas as letras das ordens”, disse Carlos.

O Parlamento se revelou um adversário imbatível para o monarca. Ele o controlava, no início de seu reinado, mas aos poucos as relações foram se deteriorando. Num determinado momento, ele achou que quanto mais concessões fazia, mais coisas lhe eram exigidas.

E resolveu enquadrar os parlamentares.

Escolheu os cinco mais ativos e os acusou de alta traição. Queria puni-los exemplarmente para que todos aprendessem a lição. Carlos I, num gesto sem precedentes na monarquia inglesa, chegou a ir ao Parlamento para fazer pessoalmente as acusações. Uma guarda enorme o acompanhou. Só que os cinco tinham sabido da visita real antecipadamente e sumiram.

A partir daí o conflito armado se tornou inevitável.

Derrotado, foi julgado por todos o sangue inocente derramado na guerra civil. No tribunal, foi chamado de “tirano, traidor, assassino e inimigo público.”

Foi condenado à morte por decapitação.

Na noite anterior à execução, dormiu bem. “Não tenho medo da morte”, afirmou. “Estou preparado para ela.”

Já no cadafalso, pediu alguns instantes ao carrasco e rezou.

E então sua cabeça foi arrancada do corpo, e uma nova era se iniciou para a humanidade.