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Quanto custam as apresentações da Lava Jato num hotel de luxo em Curitiba. Por Kiko Nogueira

No Salão Royalle do hotel Lizon, o powerpoint mais famoso de todos os tempos

 

As apresentações dos homens da Lava Jato já entraram, de certa maneira, no calendário de eventos de Curitiba, mais ou menos como uma feira de agrotóxicos.

Nesses mais de dois anos de operação, o que era uma coletiva de imprensa ordinária evoluiu para algo mais próximo de uma venda moderna de produtos para fornecedores. O powerpoint de Dallagnol caberia muito bem num road show de uma firma como as Casas da Banha.

Faz sentido? Claudio Lamachia, presidente da OAB, lembrou que “o processo é formal e guarda ritos. Não pode ser objeto de um espetáculo. Isso me preocupa. É preciso aprimorar esse procedimento”.

No UOL, o ex-desembargador e professor de Direito Wálter Maierovitch se confessou surpreso com a pirotecnia. “Nunca vi uma apresentação tão espetacular. Tinha até mestre-de-cerimônias com apresentação de componentes da mesa com nome e sobrenome. Nunca vi isso na minha vida”, falou.

Quanto custa isso? Por que algo desse tamanho? O dinheiro, você sabe, é público.

As últimas cinco performances da Lava Jato aconteceram no hotel Lizon, em Curitiba, num auditório chamado Salão Royalle. A diária custa 2 800 reais. O coffee break sai a 20 reais por pessoa. O almoço, 38.

O projetor de powerpoint custa 165, mais 270 pela sonorização (microfone, mesa de som e duas caixas acústicas). Essa é a estrutura mínima da coisa.

Você também pode ter seu nome numa placa

 

O Salão Royalle tem capacidade para 270 cidadãos de bem. Segundo o site do hotel, trata-se de “um espaço climatizado e isolado acusticamente. Está decorado ao estilo neoclássico, com lustres de cristais e acabamentos em mármore, e conta com um jardim de inverno com fonte, camarins, um foyer, pista de dança com telão, lareira e chapelaria”.

É bastante utilizado para casamentos. Muitos noivos escolhem pernoitar numa das suítes bacanudas. O estacionamento pode estar no pacote de quem aluga o espaço.

Só as entrevistas dos procuradores no Lizon já custaram, numa conta de padaria, em torno de 40 mil reais, considerando-se uma média de 200 almas por evento e sem incluir custos como o tal mestre de cerimônias citado por Maierovitch ou as placas com os nomes dos procuradores.

As conferências ocorriam, anteriormente, no Mabu, onde a diária do auditório sai entre 2 500 e 5 mil reais. O Lizon aparece com 4 estrelas de um total de 5 no site de viagens TripAdvisor.

Um dos hóspedes descreve o lugar como “luxuoso, ideal para quem quer ficar no centro da cidade de Curitiba, ônibus e taxi de fácil acesso, com atendimento imediato, higiene impecável, comida e sobremesa de boa qualidade, bom para quem pode pagar o preço agregado”.

Pãozinho de queijo porque ninguém é de ferro

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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