Que as pedras retornem ao seu lugar de origem. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 27 de março de 2018 às 6:58
Mulher ataca caravana de Lula com pedras

Sou, até por força da criação que tive, um sujeito que sempre acreditou no poder do diálogo como instrumento superior de força, inteligência e civilidade.

Jamais duvidei do estratagema universal que sempre vaticinou que violência, de toda e qualquer forma, gera inevitavelmente sempre mais violência.

Não por acaso, sou terminantemente contra a liberação de armas para a população.

Sobretudo para a nossa que, na falta de balas, se sente no direito de atirar pedras em manifestantes que participam de atividades que representam o mais puro exercício da democracia.

Dito isto, os ataques fascistas à caravana do ex-presidente Lula na região sul do país demonstram que o espaço civilizatório que sempre possibilitou aos mais antagônicos campos ideológicos minimamente se entenderem, muito provavelmente já não existe no Brasil.

O nível de polarização política e ideológica a que fomos submetidos pela grande mídia nacional, pela politização do poder judiciário e pela judicialização do poder legislativo, esgarçou toda e qualquer forma de reunificação de uma nação reduzida a frangalhos justamente pela violência cometida ao regime democrático e pela intolerância surgida – ou pelo menos evidenciada – a partir desse momento.

Não foram poucas as vezes em que os campos progressistas alertaram sobre o desastre social que ocorreria no país se os ovos do fascismo continuassem a ser chocados pelo que de pior foi criado na política nacional.

Pois bem! Os ovos eclodiram de vez.

A violência do fascismo migrou das redes sociais diretamente para as ruas. As agressões verbais se materializaram e agora estão expressas nas marcas do açoite e no sangue derramado. O que até pouco tempo era um terrível receio, hoje simplesmente é fato.

Saímos definitivamente de uma guerra travada no campo das ideias para uma verdadeira batalha campal onde, até o momento, uma curiosa particularidade se sustenta: apenas um dos lados ataca.

É lamentável que tenhamos chegado a esse nível de barbárie. Mas, uma vez que aqui estamos, não existe outra alternativa a não ser combatê-la.

Por muito tempo cultivamos a esperança de que os “cidadãos de bem” tivessem a decência e sabedoria de enxergar os seus próprios defeitos antes de atirarem a primeira pedra.

Como esse esforço de matriz humana foi inútil, que pelo menos as pedras lançadas retornem para o seu lugar de origem.

A democracia, como demonstrada em toda a sua história, exige revide aos eternos ataques que sofre.

Carlos Fernandes
Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina