O passado obscuro de Cássio Cunha Lima. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 29 de agosto de 2016 às 15:54
Cara de pau
Cara de pau

Quem o senhor Cássio Cunha Lima pensa que é para falar obsessivamente em nome do povo brasileiro?

Quem lhe deu procuração? Você, eu?

Me chamou a atenção que ninguém entre os senadores tenha dito isso a ele numa de sua múltiplas invocações fraudulentas do povo brasileiro: “Como o senhor ousa falar em nome da sociedade?”

Há um romance de Agatha Christie em que um grupo de pessoas são reunidas numa casa numa ilha. Subitamente, uma gravação começa a apontar os crimes de um por um. A quem interessar possa, é “E não restou nenhum”.

Pois bem.

Se uma gravação dessa natureza contemplasse os senadores que condenam tão ruidosamente Dilma, quantos sobrariam?

O senador Cássio Cunha Lima não. Ele é ficha suja, para começo de conversa. Foi cassado quando era governador da Paraíba em 2009, acusado de desvios de recursos e compra de votos.

Uma decisão do STF de postergar as consequências da Ficha Suja permitiu que ele concorresse ao Senado em 2012. Por isso temos que aturar essa reserva moral do PSDB fazendo prédicas cínicas sobre corrupção.

Há, fora tudo, um caso cômico em seu prontuário. Passou à história política como o episódio do Dinheiro Voador. Está registrado assim no site Movimento Ficha Limpa.

“Cássio Cunha Lima ficou nacionalmente conhecido em 2006. No dia 27 de outubro de 2006, dois dias antes do segundo turno das eleições para seu segundo mandato como governador, alguns fiscais da Justiça Eleitoral foram verificar uma denúncia de distribuição de dinheiro para compra de votos no edifício Concorde, em João Pessoa, capital da Paraíba.

Na saída os fiscais foram informados por terceiros que diversos objetos foram arremessados da janela de uma das salas do edifício. Os fiscais checaram os objetos atirados pelos funcionários de Cássio Cunha Lima e apreenderam mais de R$ 305 mil, títulos eleitorais e diversas contas de água e luz pagas.”

Este o dinheiro voador. Com ele o nobre senador Cunha Lima estava comprando votos.

O processo contra Cunha Lima foi parar nele, Sérgio Moro. Adivinhe o que aconteceu: nada. O caso está parado desde 2012.

É um oligarca. Seu pai Ronaldo foi governador da Paraíba. Notabilizou-se por dar dois tiros num adversário político, Tarcísio Burity, por acusações de corrupção que este fez ao filho Cássio. Era deputado federal. Renunciou para não ser julgado pelo STF. Claro que as coisas estavam muito mais sob controle na justiça local. Jamais chegou a ser julgado.

A tentativa de homicídio foi em 1993. Catorze anos depois, o então ministro do STF Joaquim Barbosa se pronunciou sobre o assunto. “Esse homem manobrou e usou de todas as chicanas processuais por 14 anos para fugir do julgamento. O ato dele é um escárnio para com a Justiça brasileira em geral e para com o Supremo em particular. Ele tem direito de renunciar, mas é evidente a segunda intenção. O que ele fez foi impedir que a Justiça funcionasse.”

E no Senado, nesta quinta, o filho Cássio teve o descaro em falar de “procrastinação” do julgamento de Dilma.

Ronaldo Cunha Lima atirou num adversário que acusou o filho Cássio de corrupção e jamais foi julgado
Ronaldo Cunha Lima atirou num adversário que acusou o filho Cássio de corrupção e jamais foi julgado

A oligarquia continua. Na sessão desta quinta no Senado, Cássio fez merchandising de seu filho Pedro, deputado federal pela Paraíba. Na infame sessão da Câmara que abriu o golpe, Pedro desqualificou, lembrou o pai, os 54 milhões de votos recebidos por Dilma.

A oligarquia, como presumível, tem propriedades na mídia local — uma aberração. Parentes são colocados na administração. Em 2013, o site Observatório da Imprensa registrou que a rede Tamandaré de rádio e tevê é uma sociedade de Savigny Rodrigues da Cunha Lima e Silvana Medeiros da Cunha Lima.

Quando começou a campanha pela deposição de Dilma, ele logo foi alvo das luzes da mídia pelo tom vitriólico de seus pronunciamentos contra o governo.

Nenhum jornal, nenhuma revista — ninguém achou que era notícia o passado corrupto de um senador que falava tanto em corrupção.

A isso se dá o nome de jornalismo de guerra. Fosse petista, você pode imaginar como teria sido tratada a vida pretérita de Cássio Cunha Lima.

Gleisi Hoffmann resumiu com perfeição o julgamento no Senado. Quem tem autoridade moral para julgar Dilma?

Cássio Cunha Lima, um dos mais barulhentos golpistas, definitivamente não.