Que se f… 2020: a história de um vinho que também “é arte”. Por Luís Octávio Costa

Atualizado em 15 de dezembro de 2020 às 21:36

Publicado originalmente no Fugas

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Está no rótulo, nas letras miudinhas. “Não se assuste com o nome, Que se foda é um vinho do caralho”. Dentro da garrafa — fiquem sossegados — está um vinho tinto monocasta Syrah de 2017 certificado pela Adega da Azueira e premiado com medalha de ouro. Fora, todo um conceito, “uma marca positiva” criada com intenção de “gerar boa disposição” num ano de 2020 que “merece ser maltratado”.

“É arte”. Ponto final — que até pode não ser o ponto final do vinho Que se foda 2020. Assim se escreve na última página do curto diário de um vinho que nasceu do espírito pandémico de um artista plástico que achava que as pessoas estavam a precisar de uma mensagem animadora. “Este ano permite que sejamos mais ousados”, explica à Fugas Francisco Eduardo, 36 anos, autor desta campanha — ele que uma vez, pela calada da noite da véspera das inaugurações simultâneas de Miguel Bombarda, no Porto, substituiu todas as “bandeiras” com o nome dos artistas à porta das galerias pelo nome Francisco Eduardo. “Às vezes tenho vontade de dar uns berros”.

Que se foda, diz, “não é uma asneira”. “É uma mensagem de fé”. Não esquecer porque é que Francisco o fez. “Porque de facto às vezes deixamos de fazer coisas boas porque temos medo. Eu tinha a sensação que isto ia fazer bem às pessoas. Tive receio até pelos meus pais que não gostam que eu use palavrões. Mas depois pensei, são só palavras, que por mais fortes que sejam, se estiverem no sítio certo, vão trazer muitos risos e felicidade, que é o que as pessoas neste momento precisam. Acertei em cheio.”