Um prefeito palhaço, uma primeira ministra gay & um país rico, quebrado e fantástico

Atualizado em 9 de julho de 2010 às 5:37

“FALTA UM BEST PARTY na Itália”, comentou um italiano num vídeo do YouTube. Pessoas de outros países expressaram o mesmo desejo.

Um momento.

Best Party? Partido Melhor? Piada isso?

Sim e não. Quando o comediante islandês Jon Gnarr, 43 anos, lançou o Best Party muita gente pensou que fosse uma piada de protesto contra a política e os políticos do país. A pequena e altamente desenvolvida Islândia, situada no Atlântico Norte, acabara de passar pelo trauma financeiro que deixou o país quebrado, e os islandeses estavam irritados com seus políticos. A música da campanha foi uma paródia de Simply The Best, de Tina Turner. É o vídeo que abre este artigo.

Mas a piada ganhou pernas e andou. O Best Party venceu as eleições para a prefeitura de  Reiquiavique, a capital e principal cidade da Islândia, com uma plataforma em que havia itens de candidez desconcertantemente bem humorada. O Best Party avisava antecipadamente que não iria mesmo cumprir as promessas eleitorais, ao contrário dos demais partidos que mentem que vão. Uma delas era a garantia de toalhas de graça nas piscinas públicas.

Gnarr é, agora, prefeito de Reiquiavique, cidade de pacata e nórdica prosperidade com pouco mais de 100 mil habitantes.

Aos que se preocupam com um comediante no poder, ele tem uma mensagem tranqüilizadora. Se fosse o Worst Party, o Partido Pior, haveria de fato razões para sobressalto. Mas não sendo o Melhor Partido.

“Não é porque você brinca que você não é sério”, diz ele. Gnarr tem um programa bem-sucedido na televisão islandesa. Como tantas crianças criativas, teve sérios problemas na escola. Acabou deixando os estudos depois aos 14 anos. Ingressou na cena musical punk da Islândia e com o tempo encontrou seu caminho na comédia, onde se estabeleceu. É casado com uma massagista.

A ISLÂNDIA é parte de um dos pedaços mais fascinantes do planeta: a Escandinávia. São países singulares, em que o melhor da cultura capitalista – a liberdade econômica — se impregnou de um forte sentimento igualitário. Disso resultou um Estado de Bem-Estar Social sem paralelo no mundo.

A Escandinávia – Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e Islândia – lidera consistentemente as listas sobre os países socialmente e tecnologicamente mais desenvolvidos, em que a vida é melhor para a população. Num levantamento da ONU sobre desenvolvimento humano, no qual entram itens como a expectativa de vida e a renda, a Islândia apareceu em primeiro em 2007. Caiu para terceiro em 2009, por causa da crise financeira. Em primeiro apareceu então a vizinha Dinamarca.

O PRIMEIRO CASO NO MUNDO DE CHEFE DE GOVERNO ABERTAMENTE GAY

Como em todos os países socialmente avançados, a taxa de preconceitos na Escandinávia é baixa. Na Islândia de Gnarr, o governo é comandado por Jóhanna Sigurðardóttir, 67 anos. Ela é a primeira chefe de estado do mundo abertamente gay. Mãe de dois filhos de um primeiro casamento, casou-se depois com uma escritora. Ao contrário de Gnarr, Jóhanna Sigurðardóttir é política de carreira. Milita no Partido Trabalhista, de centro-esquerda.

Sempre que vejo listas de países humanamente desevolvidos, corro para ver a posição do Brasil. Sempre, infelizmente, estamos em posição medíocre. Mesmo quando o levantamento considera não o mundo, mas a América apenas, vamos mal, ao contrário do Canadá e do Chile, por exemplo. Mas nem Dilma e nem Serra vão discutir esse tipo de coisa, já que nem Lula e nem FHC, com 16 anos combinados de poder, deram ao Brasil uma posição menos apagada.

Talvez um Best Party no Brasil chacoalhasse um pouco as coisas.