Queixa de Greenwald contra Bolsonaro só tem um problema: a Justiça. Por Fernando Brito

Atualizado em 5 de dezembro de 2019 às 6:54
Glenn Greenwald. Foto: Elza Fiúza / Agência Brasil

Publicado originalmente no blog Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

Tecnicamente, a interpelação judicial do jornalista Glenn Greenwald contra Jair Bolsonaro é perfeita como peça jurídica.

Afinal, chamar alguém de malandro – quem leva a vida sem trabalho; vadio ou dado espertezas e furtos – é injuriante e infamante e, pior, alegar que o premiado jornalista casou-se com um brasileiro para ficar livre de uma possível deportação “casa com outro malandro ou adota criança no Brasil”, o que é calúnia.

A interpelação, espécie de antessala de um processo, deixa Bolsonaro diante de uma sinuca: ou se desmente a autoria ou diz que “não foi bem isso” o que quis dizer.

Confirmar, neste caso, seria assumir a prática de crime contra a honra.

Mas pode ser pior, se acolhido o argumento de que as declarações presidenciais encerram homofobia, recentemente equiparada penalmente ao racismo pelo próprio STF.

Juridicamente, porém, o pedido de Greenwald esbarra em um problema insólito : o nosso próprio Judiciário.

Dificilmente a interpelação poderá deixar de ser aceita, é verdade, diante de tão flagrante violação.

O provável é que dela, porém, venha uma resposta do “não foi bem isso” que disse

Até aceitar-se uma queixa-crime contra o presidente vão anos-luz de distância.

Ainda assim é importante.

A briga de Greenwald era com Moro e, agora, passa a ser com Bolsonaro.