Quem ama não agride e nem mata. Por Chico Alencar

Atualizado em 27 de dezembro de 2020 às 16:27
Paulo José Arronenzi foi preso por matar ex-mulher, a juíza Viviane Arronenzi, a facadas Foto: Reprodução

Publicado originalmente na fanpage de Facebook do autor

POR CHICO ALENCAR, ex-deputado do PSOL

QUEM AMA NÃO AGRIDE NEM MATA!

Foi chocante: no Rio, na véspera desse Natal, o ex-marido aproxima-se da ex-mulher e a mata a facadas, diante das três filhas menores. Trata-se do caso da juíza Viviane Arronenzi. O assassino – já preso – é o engenheiro Paulo José. Uma barbaridade!

Como quem diz que ama (e talvez tenha amado, de fato) transforma esse sentimento em ódio mortal, doentio, cruel, letal? Relações afetivas marcadas por neuroses e possessividade são incubadoras de agressões.

Um retrato do Brasil atual. Segundo dados do Forum Brasileiro de Segurança Pública e do Núcleo de Estudos da Violência da USP, no ano passado tivemos um aumento de 7,13% nos feminicídios – homicídios em que se mata pela condição de mulher. 70% desses crimes são cometidos por companheiros ou ex, 58% com armas brancas, 43% com os filhos vendo!

O Brasil ostenta a vergonhosa 5a colocação mundial nesses casos. Entre nós, a cada minuto duas mulheres são espancadas; a cada 8 minutos acontece um estupro. Hoje pelo menos 3 mulheres serão assassinadas em nosso país, por serem… mulheres!

É preciso dar um basta nesse resquício sangrento do patriarcalismo e do machismo! O desprezo pela mulher, ou a crença na sua “inferioridade”, é manifestado inclusive por operadores da Justiça. Quando não por altas autoridades públicas, em geral armamentistas!

A violência doméstica – moral, verbal e opressiva -, sobretudo de homens contra as mulheres, cresceu na pandemia (em sua benção de Natal, o papa Francisco também pediu pelo fim dessa violência).

O telefone 180 recebeu, em 2019, 112 relatos diários, em média, de violência contra a mulher. É preciso utilizar mais e mais esse canal!

É preciso crescente engajamento – em palavras e atitudes – no movimento pelo tratamento respeitoso, civilizado e digno entre todas as pessoas, sem qualquer discriminação. Em busca do tempo da delicadeza.

Fim de ano é propício à revisão de vida: o que temos dito e feito na direção de uma sociedade fraterna e igualitária, que reduza até à extinção as posturas machistas, a prepotencia nas relações e esses crimes bárbaros?