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Quem cobrará Damares Alves por levar a índia Lulu Kamayurá de sua tribo? Por Nathalí Macedo

Lulu e a ministra Damares. A jovem está prestando vestibular e é tida como “grudada” com a mãe, a quem defendeu nas redes sociais Foto: Reprodução

Hoje aos 20 anos, a menina que Damares Alves – a ministra da Mulher e dos Direitos Humanos do Governo Bolsonaro – apresenta como sua filha é, na verdade, índia da reserva Kamayurá, no Mato Grosso, neta de Tanumakaru, e a história de sua “adoção” é, no mínimo, controversa.

Segundo reportagem da Revista Época, a adoção de Lulu não apenas jamais foi regularizada, como sua família biológica nunca concordou.

“Chorei,  Lulu estava chorando também por deixar a avó. Márcia levou na marra. Disse que ia mandar de volta, que quando entrasse de férias ia mandar aqui. Cadê?”, diz a avó da menina, cuja neta foi levada da reserva sob o pretexto de fazer um tratamento dental.

Parece uma história de colonização de 1500, mas aconteceu no Século 21 – porque a colonização, na verdade, nunca terminou, e o homem branco só sossegará quando o último índio estiver morto.

Como se Lulu fosse um animal disponível em um petshop, ela foi arrancada de sua família, de sua tribo e de sua cultura por uma mulher branca que se julga acima das leis sobre adoção no Brasil.

A isso se tem chamado de “adoção à brasileira” – quando bebês são “adotados” irregularmente.

O que Damares fez, no entanto, vai além de uma adoção irregular.

Quem cobrará de Damares?

Questionada sobre a história, a ministra se colocou à disposição para responder todas as perguntas – embora não tenha respondido nenhuma, até agora – e completou:  “mas insisto: tratem tudo com o olhar especial para estes povos, para as mães e crianças que sofrem”.

O homem branco sempre achando que pode – e deve – salvar os índios com sua civilização.

A soberba do dito homem civilizado é tão megalomaníaca que eles têm pachorra de julgar-se fazendo um favor para as famílias: “ele viverá melhor comigo.”

E o que significa, afinal, “tratar esses povos com um olhar especial?”

Arrancar-lhes a terra, os filhos, os direitos e a dignidade? Tratá-los como inumanos e incivilizados, e portanto não portadores de direitos fundamentais?

A mentalidade colonialista nunca terminou, e o único olhar especial que gente como Damares oferece aos povos indígenas é o predatório.

Nathalí Macedo

Escritora, roteirista, militante feminista, mestranda em Cultura e Arte. Canta blues nas horas vagas.

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Nathalí Macedo

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