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Quem concedeu a “cláusula de preferência” à Globo na transmissão do futebol, e por quanto? Por Paulo Nogueira

José Roberto, Roberto Irineu e João Roberto Marinho

Capitalismo exige concorrência.

E, nos países desenvolvidos, você tem leis severas contra monopólios, exatamente porque sem competição o capitalismo se desfigura.

Mas a Globo parece ter outra opinião. E outra atitude.

E, sem ninguém para fiscalizá-la no Brasil, passou – não à luz do sol, mas na sombra – a minar a concorrência, certa da impunidade.

A denúncia involuntária de Silvio Santos num vídeo despretensioso sobre a razão pela qual desistiu do futebol mostra o que é a Globo e, infelizmente, o que é o Brasil.

O vídeo registrou uma conversa de SS com os seus funcionários por ocasião dos 30 anos do SBT, em 2011.

Um sucesso na transmissão de uma partida, na década de 1990, animou Silvio Santos a disputar o mercado de transmissões de futebol.

Ele conta no vídeo – sem se dar conta da gravidade da informação – que desistiu depois de receber a informação, ao tentar comprar os direitos, de que a Globo tinha uma “cláusula preferencial”.

Para Silvio Santos, que jamais abandonou a alma do camelô que foi na juventude, desistir de alguma coisa, você pode imaginar o tamanho do muro com o qual topou.

Ele afirma que seu lance foi maior do que o da Globo, mas não adiantava. A Globo poderia cobrir. Ali SS se deu conta de que era “impossível” tirar o futebol da Globo.

Não havia, portanto, concorrência.

Em disputas justas e lisas, os contendores fazem suas ofertas sem saber o quanto os outros estão oferecendo.

Mas, como descreveu Silvio Santos, não era isso que ocorria na batalha pelo futebol. Alguém ia ganhar sempre, com base numa indefensável “cláusula preferencial”.

O futebol rende dinheiro fabuloso à Globo todos os anos, na casa do bilhão.

E, como disse candidamente Silvio Santos, a emissora tratou de tirar a concorrência da frente.

Veja a Premier League.

As emissoras Sky e a BT, em parceria, conquistaram o direito de transmitir por três anos a Premier League para o público doméstico pela fabulosa quantia de 3 bilhões de libras, uns 12 bilhões de reais.

Isso representou um aumento de 70% sobre o contrato anterior. O preço foi puxado porque a ESPN, da Disney, lutou desesperadamente pela Premier League.

Mas ficou sem nada.

A ESPN competiu e perdeu. É capitalismo. A Globo, como mostrou Silvio Santos, não compete e ganha. Não é capitalismo.

É o anticapitalismo por excelência.

Quem concedeu a “cláusula de preferência” à Globo, e por quanto?

Questões como esta têm que ser respondidas, caso haja a mínima intenção de promover uma faxina no futebol brasileiro.

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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