Quem deu o habeas corpus para o cérebro de Caiado? Por Kiko Nogueira

Atualizado em 26 de junho de 2015 às 13:36
Ele
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A formulação de Demóstenes Torres sobre Ronaldo Caiado — “uma voz à procura de um cérebro” — precisa ser atualizada.

Fica cada vez mais evidente que Caiado tem cérebro, e esse talvez seja o problema.

Tornou-se o Mistificador Geral da República. Desde que Aécio tirou o pé do impeachment, RC ocupou o espaço de oposição histérica. Um Carlos Sampaio da vida real.

É a direita Chacrinha, feita para confundir e não para explicar. Não à toa, virou ídolo de todo e qualquer revoltado on line. Foi um dos palestrantes convidados do Fórum da Liberdade, em abril. De acordo com os organizadores, Caiado “destaca-se como debatedor”.

Na verdade, ultrapassou há tempos qualquer tipo de linha definidora do que seja honestidade num debate. Foi ele o responsável por espalhar o boato do habeas corpus de Lula. “Temendo ser preso pelos malfeitos que cometeu – disso ninguém mais duvida – Lula apresenta habeas corpus preventivo”, escreveu ontem nas redes sociais.

Em seguida, cravou que “Lula ‘Brahma’ quer escapar da responsabilidade no escândalo do Petrolão/Lava Jato. Habeas Corpus prova que o ‘chefe’ foi identificado.”

Mesmo quando pego na mentira, ele insiste empedernido. “Quem deve dizer se é verdadeiro ou não é a Justiça do Paraná”, disse sobre o HC.

Este tem sido seu modus operandi. Ciente de que lhe dá ribalta, Caiado é uma máquina de factoides que só perde em invenção, talvez, para Claudio Tognolli, blogueiro mitômano e biógrafo de Lobão.

Caiado trabalha na sintonia da ameaça bolivariana. Não tira isso da cabeça e da boca. Diz que os imigrantes haitianos, por exemplo, estão sendo treinados para integrar o exército do MST. Por isso estão vindo mais homens do que mulheres e crianças.

No episódio da excursão à Venezuela ele ampliou as fronteiras do descompromisso com os fatos. Enquanto o pedido era analisado oficialmente, denunciou que o vôo havia sido proibido e que o Brasil se alinhava a um tiranete. Exigiu a retirada venezuelana no Mercosul.

Uma vez em Caracas, postou que a van com os sete colegas da liga da justiça havia sido “apedrejada”. O vídeo seria colocado no ar mais tarde porque a internet “era ruim”. Claro que as imagens nunca viram a luz do sol.

Jamais se corrige, jamais pede um esboço de desculpas por inventar tanto. Talvez porque seus eleitores esperem dele, ao fim e ao cabo, o grito de pega ladrão enquanto o sujeito bate a carteira.

Não, não. Caiado tem um cérebro e, como todos nós, o dele começou a funcionar no momento em que ele nasceu. O problema é que para quando ele fala em público.