Quem deve ganhar o Oscar e por quê: as escolhas do nosso crítico Von Kursk

Atualizado em 27 de outubro de 2014 às 11:38

oscars

 

Ganhar uma indicação é quase tão importante quanto faturar o próprio Oscar. Ela permite que os estúdios propagandeiem esse feito em seus anúncios na TV e que produtores independentes e estrangeiros tenham a oportunidade de comercializar seus filmes com mais facilidade e vendê-los a distribuidores internacionais.

Há sempre algumas injustiças. “Frances Ha”, por exemplo, ficou de fora. “Blackfish”, o documentário sobre orcas do Sea World, foi dormir com os peixes. Mas, no geral, os nomeados fazem jus a um ano bom para o cinema. “Trapaça” e “Gravidade” tiveram 10 indicações cada para melhor filme, enquanto “12 Anos de Escravidão” obteve nove.

Aqui estão as minhas apostas para o Oscar deste ano (vamos esquecer aquela bobagem politicamente correta de que essa não é uma competição sangrenta e lembrar os milhões gastos pela indústria para promover seus produtos. É, sim, uma batalha sem misericórdia).

 

MELHOR FILME

“12 Anos de Escravidão”

“Trapaça”

“Capitão Philips”

“Clube de Compras Dallas”

“Gravidade”

“Ela”

“Nebraska”

“Philomena”

“O Lobo de Wall Street”

“Capitão Philips” é uma boa aventura e não passa disso, “12 Anos de Escravidão” carece de arco narrativo suficiente e “Gravidade” é muito sci-fi para o meu gosto e o da Academia de Cinema que vota.

“Trapaça” é o melhor trabalho de David O. Russell numa carreira interessante, que inclui “Três Reis”, “O Lutador” e o vencedor do ano passado, “O Lado Bom da Vida”.

Em “Trapaça”, Russell se supera para contar a história rocambolesca de um agente do FBI (Bradley Cooper) que contrata uma equipe de vigaristas liderada por Christian Bale para prender políticos corruptos. Mais uma vez, Jennifer Lawrence demonstra que é a mulher mais sexy do mundo e também uma das jovens atrizes mais talentosas do planeta. Além disso, Amy Adams mostra seus poderes formidáveis ​​de sedução em um desempenho tão memorável quanto o de Lawrence.

Minha escolha: “Trapaça”

 

 

MELHOR ATOR

Christian Bale (“Trapaça”)

Bruce Dern (“Nebraska”)

Leonardo DiCaprio (“O Lobo de Wall Street””)

Chiwetel Ejiofor (“12 Anos de Escravidão”)

Matthew McConaughey (“Clube de Compras Dallas”)

Há muitas performances brilhantes nesta categoria. Christian Bale dá, sem dúvida, o melhor desempenho de sua carreira em um papel tão dramático quanto cômico em “Trapaça”, enquanto Bruce Dern está excelente como um velho em busca da redenção em “Nebraska”.

Matthew McConaughey está excelente em “Clube de Compras Dallas”, mas o filme não foi um sucesso comercial e não gerou o buzz esperado.

Chiwetel Ejiofor, que já trabalhou com Woody Allen (“Melinda e Melinda”) e em filmes como “American Gangster”, é um excelente ator britânico de ascendência nigeriana. Em “12 Anos de Escravidão”, Ejiofor interpreta de maneira profundamente comovente um negro livre de Nova York que é sequestrado e vendido como escravo para o sul dos EUA.

Desculpem, Ejiofor está muito acima do resto.

Minha escolha: Chiwetel Ejiofor

 

 

MELHOR ATRIZ

Amy Adams, (”Trapaça”)

Cate Blanchett (“Blue Jasmine”)

Sandra Bullock (“Gravidade”)

Judi Dench (“Philomena”)

Meryl Streep (“Álbum de Família”)

Houve um burburinho na imprensa especializada de que Meryl Streep seria a favorita para mais uma estatueta por “Álbum de Família”, com sua teatralidade exagerada. Espero que não. Há uma obsessão em indicá-la todo ano. “Álbum…” é uma novela piegas que poderia muito bem estar passando na Globo.

Sandra Bullock é uma atriz muito comum em um filme extraordinário de ficção científica. Amy Adams nunca foi conhecida por interpretar mulheres sexy – até agora. Em “Trapaça”, ela finalmente consegue mostrar seu lado sensual como a picareta Sydney. Ao longo dos últimos anos, Adams teve várias indicações para coadjuvante e teria tudo para levar a melhor novamente, exceto pelo fato de que concorre com Cate Blanchett.

Desde que perdeu o Oscar para Gwyneth Paltrow em “Shakespeare Apaixonado”, Blanchett nunca conseguiu encontrar outro papel marcante.

Blanchett interpreta o personagem título em “Blue Jasmine”, a ex-mulher de um investidor de Wall Street forçada a deixar sua vida luxuosa na Park Avenue para buscar refúgio com a irmã em San Francisco.

Jasmine é alternadamente determinada, refinada, maníaca, e beirando colapso nervoso e Blanchett nos envolve na crise de sua personagem de modo convincente.

Minha escolha: Cate Blanchett

 

 

MELHOR ATOR COADJUVANTE

Barkhad Abdi (“Capitão Philips”)

Bradley Cooper (”Trapaça”)

Michael Fassbender (“12 Anos de Escravidão”)

Jonah Hill (“O Lobo de Wall Street”)

Jared Leto (“Clube de Compras Dallas”)

Michael Fassbender e Jared Leto dão excelentes performances e Bradley Cooper está maravilhoso como o agente do FBI em “Trapaça”.

Apesar de Jonah Hill estar encantador em “O Lobo de Wall Street”, tenho a sensação de que todos eles vão dar espaço no Oscar para Barkhad Abdi, hipnotizante como o pirata somali que toma o navio de Tom Hanks em “Capitão Philips”. Acredito que Abdi terá toda a simpatia de Hollywood como um ator refugiado que agora vive em Los Angeles.

Minha escolha: Barkhad Abdi

 

 

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Jennifer Lawrence (”Trapaça”)

Lupita Nyong’o (“12 Anos de Escravidão”)

Julia Roberts ( “Álbum de Família”)

June Squibb (“Nebraska”)

Sally Hawkins (“Blue Jasmine”)

Jennifer Lawrence é a queridinha da América e mesmo que ela provavelmente mereça ganhar, já tendo vencido como Melhor Atriz no ano passado por “O Lado Bom da Vida”, é duvidoso que a Academia lhe dê mais um troféu.

Isso deixa esta categoria aberta e minha escolha vai para June Squibb em “Nebraska” simplesmente porque acho que os votos serão divididos entre Lawrence e Roberts. Squibb é uma ex-pinup que alcançou o sucesso atuando modestamente mais de 50 anos atrás e tem sido apontada como favorita.

Minha escolha: June Squibb

 

 

MELHOR DIRETOR

Martin Scorsese (“O Lobo de Wall Street”)

David O. Russell (”Trapaça” )

Alfonso Cuarón (“Gravidade”)

Alexander Payne (“Nebraska”)

Steve McQueen (“12 Anos de Escravidão”)

Vai ser uma corrida disputada entre Russell, Cuarón e McQueen. Mas “Trapaça” está sendo considerado nos círculos de Hollywood como o melhor filme do ano e deve dar a Russell o prêmio de melhor diretor.

O fato de que todos os quatro atores principais destes longas foram indicados também vai pesar sobre os padrões de votação da Academia.

Russell traz uma visão única e altamente criativa e isso o diferencia da maioria dos diretores de Hollywood.

“O Lobo de Wall Street”, de Scorsese, é uma imitação morna de seus melhores filmes, como “Os Bons Companheiros” e “Os Infiltrados”.

“12 Anos de Escravidão” atraiu a atenção mais por seu retrato chocante da escravidão americana do que pela qualidade de sua direção, o que pode deixá-lo fora da disputa. Hollywood geralmente ignora filmes de ficção científica e Cuarón, portanto, dança.

Minha escolha: David O. Russell


 

 

MELHOR FILME ESTRANGEIRO

“A Caça” (Dinamarca)

“Alabama Monroe” (Bélgica)

“A Grande Beleza” (Itália)

“Omar” (Palestina)

“The Messing Picture” (Camboja)

Para mim, “A Grande Beleza” mereceria, de longe, a indicação ao Oscar de Melhor Filme, como qualquer um dos citados acima. É daquelas obras-primas que serão totalmente apreciadas depois de anos.

O diretor italiano Paolo Sorrentino nos carrega em uma viagem arrebatadora pela alma devassa de Roma, a cidadela de sonhos absurdos e prazeres covardes. Ela é vista através dos olhos de um escritor e jornalista incrivelmente entediado, Jep Gambardella (Toni Servillo). Sua Roma é um paraíso para uma classe decadente de hedonistas e puxa-sacos.

Jep/Sorrentino analisa o cenário a partir da perspectiva de um artista desiludido que há muito tempo se permitiu ser sugado para uma cultura de farra eterna. Ele vaga sem alma. Parente em espírito de “La Dolce Vita”, “A Grande Beleza” é uma bela reflexão sobre o lixo europeu (eurotrash).

Só a cegueira geral de Hollywood para filmes estrangeiros explica o fato de “A Grande Beleza” não ter sido indicado para melhor filme, ponto.

Minha escolha: “A Grande Beleza”