
Stephanie Hockridge, conhecida por anos como rosto de um telejornal em Phoenix, voltou às manchetes por um motivo bem diferente daquele que a projetou na TV. A ex-apresentadora de 42 anos foi condenada a 10 anos de prisão por envolvimento em um esquema que desviou mais de 63 milhões de dólares do Programa de Proteção ao Salário, criado pelo governo dos Estados Unidos como auxílio emergencial durante a pandemia.
De acordo com o Departamento de Justiça, ela foi considerada culpada por conspiração para cometer fraude eletrônica. A sentença inclui ainda dois anos de liberdade condicional e o pagamento integral do valor desviado.
Antes de ser investigada, Hockridge tinha construído uma carreira sólida no jornalismo local. Trabalhou na emissora ABC15 entre 2011 e 2018, recebeu indicação ao Emmy e se tornou um dos nomes mais reconhecidos do noticiário da região de Phoenix.
Ela deixou a televisão pouco antes de iniciar uma nova fase profissional, atuando como influencer e como sócia do marido em uma empresa voltada ao mercado financeiro. Foi esse movimento, segundo a investigação federal, que a aproximou do centro do esquema fraudulento.
Hockridge se tornou coproprietária da Blueacorn em abril de 2020, empresa criada com a promessa de agilizar o acesso de pequenos negócios aos empréstimos emergenciais.
Documentos do Departamento de Justiça apontam que, entre 2020 e 2021, a Blueacorn cresceu rapidamente e passou a figurar entre as intermediárias mais usadas no programa federal de 800 bilhões de dólares. No mesmo período, segundo promotores, a companhia também se transformou em um dos principais canais para fraudes.

A acusação sustenta que Hockridge e Nathan Reis, seu marido e sócio, desenvolveram um serviço chamado VIPPP, voltado a orientar clientes a submeter pedidos falsos ao programa emergencial. Para isso, afirma o governo, eram criados registros de folha de pagamento, extratos bancários e documentos fiscais adulterados.
O objetivo era inflar artificialmente os valores solicitados aos cofres públicos. Testemunhas relataram que a empresa cobrava porcentagens ilegais sobre os montantes liberados pelo governo.
Em dois episódios citados na denúncia, Hockridge enviou solicitações fraudulentas em 2020 e 2021 que resultaram em transferências diretas para suas contas, segundo o Departamento de Justiça. Ela foi absolvida das acusações específicas relacionadas a esses dois pedidos, mas permaneceu condenada no conjunto da investigação.
O juiz Reed O’Connor, responsável pelo caso, avaliou que o prejuízo ao Programa de Proteção ao Salário foi significativo. Já o advogado de defesa, Richard E. Finneran, rebateu a decisão.
Ele afirmou que Hockridge “foi condenada por empréstimos que os promotores nunca provaram serem fraudulentos” e declarou estar confiante de que a condenação será revertida na apelação.
O esquema entrou no radar do Congresso em 2022, quando um painel legislativo divulgou relatório sobre falhas estruturais do programa federal. O documento citou a Blueacorn como um dos casos mais graves, mencionando controles internos frágeis e falta de mecanismos para distinguir pedidos legítimos de fraudes.
Segundo o relatório, a empresa operava com pouco pessoal e se beneficiou da fiscalização limitada adotada durante a fase mais crítica da pandemia. Nathan Reis, marido de Hockridge, se declarou culpado pela conspiração em agosto e aguarda sentença. As autoridades estimam que o esquema totalizou mais de 63 milhões de dólares em empréstimos fraudulentos.