Quem é Airton Soligo, o Cascavel, nº 2 de Pazuello que pode derrubar Bolsonaro

Atualizado em 15 de junho de 2021 às 7:54
Pazuello e Cascavel, o homem-bomba do ministério da Saúde

A semana no Congresso será mais curta por causa do feriado de Tiradentes, nesta quarta, 21.

No entanto, tem potencial para ser uma das mais explosivas desde que Bolsonaro assumiu a presidência, em janeiro de 2019.

É que na quinta, 22, está prevista a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia, com foco principal em investigar o descaso do governo em relação à pandemia do Coronavírus.

Desde o início da crise, Bolsonaro vem boicotando medidas de prevenção, como o isolamento social e o uso da máscara, evitando como pode a aquisição de imunizantes e, ainda mais grave, estimulando o tratamento precoce da doença, com a prescrição pelos médicos de drogas não reconhecidas como cloroquina, ivermectina e azitromicina.

Na semana passada, vazou um áudio de uma conversa entre Bolsonaro e o senador Jorge Kajuru em que o capitão demonstra o desejo de incluir prefeitos e governadores no escopo da investigação como uma forma de blindar o ex-ministro Eduardo Pazuello.

Bolsonaro tem motivos de sobra para se preocupar com a exposição do general: dentro do governo é consenso que sua passagem pelo ministério da Saúde foi marcada por bagunça generalizada e altas doses de manipulação.

Pelos corredores, o que se fala é que Pazuello é um general cabeça dura que se deixou levar por dois assessores considerados hoje nitroglicerina prestes a explodir: um é Airton Soligo, ex-deputado conhecido como “Cascavel”, responsável pela articulação política do ministério.

A outra é a pediatra cearense Mayra Pinheiro, levada ao governo por Luiz Mandetta para combater os médicos cubanos e a possibilidade de se trazer brasileiros formados fora do país para ajudar no combate à pandemia.

Colocada no governo por Mandetta, foi assim que Mayra recebeu os médicos cubanos no Brasil

Não bastasse a militância desleal, Mayra é a principal articuladora do movimento que defende o tratamento precoce contra a covid.

A prescrição ilegal do coquetel à base de cloroquina, ivermectina e azitromicina causou milhares de mortes e implicou no desejo da polícia de indiciar a médica ginecologista Michelle Chechter por homicídio pela morte de uma paciente com Covid-19 tratada com hidroxicloroquina nebulizada em Manaus.

Cascavel é uma pedra no sapato de Pazuello tão ou mais incômoda que Mayra Pinheiro. Recentemente, foi alvo de um pedido de esclarecimentos pelo PSOL por crime de administração pública.

Antes de ser nomeado formalmente assessor do MS, o empresário e agropecuarista de Roraima que nada tem a ver com a área de Saúde já era eminência parda do general há pelo menos três meses.

Pazuello conheceu Cascavel durante o período de intervenção federal decretado naquele estado em 2018 e, desde então, ficaram amigos.

A intervenção em Roraima, na época, afastou a então governadora Suely Campos (PP) e colocou como interventor Antonio Oliverio Garcia de Almeida, conhecido como Antonio Denarium (PSL) – que em 2018 foi eleito governador, tendo Cascavel como um dos seus principais aliados.

Mas o que fazia do assessor uma pessoa conhecida e temida pelos servidores não era apenas a proximidade com o ministro da Saúde.

E sim, o jeito pouco ortodoxo como entrou na pasta e ainda a forma pouco convencional que conduzia as negociações com governos estaduais, além das orientações que dava ao corpo técnico do governo.

Se identificava como “assessor direto de Pazuello” e viajava para reuniões nos estados para dar ordens sobre as ações de combate à covid.

Teve participação ativa na crise que resultou em ação de improbidade pedida pelo Ministério Público Federal contra Pazuello e o secretário estadual de Saúde do Amazonas, Marcellus Campelo, por omissão que levou ao colapso hospitalar em Manaus no período da falta de oxigênio para tratamento dos pacientes.

Um dos encontros do general com autoridades de saúde locais, segundo se comenta nos bastidores do ministério, aconteceu numa casa de Cascavel em Manaus, uma das muitas que o empresário tem em estados da região Norte do país.

A investigação da Procuradoria identificou cinco atos de improbidade cometidos durante o colapso, incluindo o atraso e a lentidão de Pazuello em enviar equipe para diagnosticar e reduzir nova onda de casos de covid no Estado e a pressão para as autoridades locais adotarem ‘tratamento precoce’.

Também foi apontada a omissão das autoridades no monitoramento da demanda de oxigênio na capital do Amazonas e a demora para transferência de pacientes que aguardavam leitos.

Segundo o MPF, até o sistema colapsar em Manaus no início deste ano, o Ministério e a Secretaria de Estado de Saúde deixaram de adotar medidas necessárias para calcular a demanda de oxigênio, algo que só passou a ser feito após o insumo faltar nos hospitais da capital amazonense.

Para os procuradores, Pazuello e o secretário de Saúde ‘atuaram sabidamente às cegas’ durante a crise.

“Ao omitir-se, o ex-ministro sabia da situação calamitosa da rede de saúde no Amazonas, seja em virtude da maior incidência da pandemia no estado, seja pela desorganização administrativa que, como se expôs, já havia sido constatada pelo próprio Ministério da Saúde, por meio do DENASUS e da comitiva chefiada por MAYRA PINHEIRO. Ademais, sendo oriundo do Amazonas e tendo exercido função militar no estado, também conhecia detalhadamente as grandes dificuldades logísticas a serem enfrentadas em caso de desabastecimento, o que implicava a necessidade de dimensionar com antecedência as demandas por produtos que não pudessem ser eficientemente transportados pela via aérea”, apontou a Procuradoria.

O MPF identificou ainda improbidade na pressão exercida por representantes do Ministério da Saúde em promover no Amazonas o ‘tratamento precoce’ contra a covid, que não tem eficácia para a doença, apesar da crise agravada no Estado.

A Procuradoria relembra que, quando esteve em Manaus, Pazuello promoveu nas unidades básicas de saúde da capital o uso da cloroquina contra a covid.

“O ex-ministro atuou, em conjunto com os Secretários MAYRA PINHEIRO e HÉLIO ANGOTTI NETO, na campanha de pressão sobre os médicos no Amazonas para que implementassem o ‘tratamento precoce’ de eficácia questionada e deixou de adotar, no estado, estratégia comunicativa que incentivasse o isolamento social e demonstrasse o caráter cogente dos Decretos estaduais que impunham o distanciamento social mais severo. Ao assim agir, inobservou seu dever de promover a prevenção do agravamento da pandemia e atou em descompasso com a tecnicidade que deve orientar a conduta dos agentes públicos integrantes do Ministério da Saúde”, frisaram os procuradores.

Por sorte ou ironia do destino, Cascavel e Mayra não respondem nesta ação, mas são elementos chave para a elucidação do caso que pode levar inclusive ao pedido de impeachment do presidente, por omissão e por estimular o charlatanismo na maior crise sanitária da história do país.