Quem é Gislaine Targa, novo reforço na guerra bolsonarista contra a cultura. Por Donato

Atualizado em 14 de janeiro de 2020 às 18:11

Pouco depois de assumir a vaga, Roberto Alvim, secretário de Cultura, afirmou com todas as letras que criaria uma “máquina de guerra cultural”.

Empenhado na cruzada fundamentalista, Alvim acaba de nomear Gislaine Targa para o cargo de chefe de gabinete na Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura (Sefic).

Ela irá assessorar Camilo Calandreli, notório conservador, fundador do Simpósio Nacional Conservador de Ribeirão Preto, um evento de articulação da direita atual.

Pois é, veja nas mãos de quem está a Cultura.

Gislaine Targa é líder do grupo Mães Pelo Escola Sem Partido. Consultora de Recursos Humanos, Gislaine foi também uma das coordenadoras do golpista Movimento Brasil Livre (MBL) na região de Araçatuba (SP).

Nas redes sociais, o grupo liderado por Gislaine nasceu com a finalidade de defender e propagar as patacoadas do Escola Sem Partido.

Em 2016, ela já se metia onde não era chamada. Encabeçou um protesto de pais reacionários do Colégio Pedro II – no Rio de Janeiro – contra uma medida da diretoria que autorizava meninos a usarem saia.

Era o fim da distinção de uniformes para meninos e meninas. Gislaine e demais abilolados consideraram aquilo ideologia de gênero e surtaram.

Desde então tem sido frequente a presença de Gislaine em plenários de Câmaras batendo boca com estudantes.

Sinal dos tempos,  o Mães Pelo Escola Sem Partido ampliou sua pauta e, atualmente, faz uma publicação atrás da outra abordando o tema LGBT.

Disseminando preconceito e ignorância, as postagens condenam o uso de banheiros por pessoas trans – a quem se referem como “transformers” – compartilham publicações ofensivas à Thammy Gretchen, atribuem ao feminismo de Meghan Markle a “destruição da família real” na Inglaterra. É anti-feminismo misturado com racismo e transfobia.

Publicação em rede social do Mães pelo Escola Sem Partido

Mas sobretudo são publicadas medidas e leis aprovadas em outros países. Ato contínuo, o rebanho seguidor do grupo comenta e repassa sem ler nem perceber que não se trata de Brasil.

Partilham vídeos de alguma apresentação teatral sem identificação e alardeiam como situação real: “Quando chega nesse estágio, não tem mais jeito. Por isso é preciso começar pela educação básica, para impedir a zumbificação antes que seja tarde”.

Como se estudantes universitários, além de maconheiros e gayzistas, agora também tivessem se tornado zumbis. Para que se contentar com uma só Damares, não é mesmo?

As fontes da turma de Gislaine são tão confiáveis como o Terça Livre ou vídeos de malucos que tentam ligar a “feminilização atual do homem com a cultura do aborto”.

Esse é o nível da página que se divulga “voltada para mães, pais, tutores, professores e alunos que acreditam no Escola Sem Partido e lutam pelo fim da doutrinação de crianças nas escolas”.

Já na apresentação o grupo nomeia duas “inimigas”: Deborah Duprat, procuradora federal dos Direitos do Cidadão e contrária ao Projeto Escola sem Partido; E Rosely Sayão, psicóloga e consultora educacional com mais de 30 anos de experiência.

Certamente, a consultora de Recursos Humanos crê ter mais domínio sobre o tema do que as duas especialistas.

Atualmente o perfil de Gislaine Targa no Facebook é fechado para curtidas e comentários e ela pouco posta além de fotos de animais. Entretanto, foi ativíssima no período do processo de impeachment de Dilma (a quem chamava de ‘anta’).

No Twitter, ela comemorou em novembro do ano passado a prisão da presidente do Tribunal Superior Eleitoral da Bolívia. “Que sirva de exemplo para nós.”

Líder do pessoal que se dizia apartidário, ‘pelo Brasil’, fã do Rodrigo Constantino, ela mais que rapidinho arrumou uma boquinha em cargo oficial.

Com perfis como esse, ligados à educação e cultura, caminhamos a passos largos para o abismo.