Quem é María Corina Machado, venezuelana de direita apoiada por Bolsonaro e Moro

Atualizado em 10 de outubro de 2025 às 12:14
María Corina Machado, da Venezuela. Foto: Getty Images

A líder da oposição venezuelana María Corina Machado foi anunciada como vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2025. O Comitê Norueguês do Nobel alegou reconhecer seus esforços “pela restauração pacífica da democracia e dos direitos humanos na Venezuela”. A premiação, no valor de 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,2 milhões), marcou a 20ª vez que uma mulher recebeu a honraria.

A ex-deputada ultraliberal vive escondida desde que contestou o resultado das eleições presidenciais de julho de 2024, que reconduziram Nicolás Maduro ao poder em um pleito acusado de falta de transparência. A vitória dele não foi reconhecida por diversos países e organismos internacionais.

Durante as eleições, o principal candidato de oposição foi Edmundo González Urrutia, um ex-diplomata escolhido por María Corina para substituí-la após ser impedida de concorrer. Apesar de formalmente fora da disputa, ela liderou a campanha de bastidores e era considerada a verdadeira figura por trás da candidatura.

A ex-deputada estava impedida de ocupar cargos públicos desde 2023, quando a Controladoria-Geral da República venezuelana a inabilitou por 15 anos. A justificativa foi uma omissão de bens em sua declaração patrimonial, mas Machado alegou perseguição política. O processo contra ela teve origem em 2015.

Nascida em uma família de empresários, Machado era filha de Enrique Machado Zuloaga, dono da siderúrgica Sivensa, expropriada pelo governo de Hugo Chávez em 2009. Antes de entrar na política, fundou a ONG Súmate, voltada ao monitoramento eleitoral, mas acusada de receber recursos dos Estados Unidos e de apoiar o golpe de 2002 contra Chávez.

Ela participou do governo provisório de Pedro Carmona, que durou apenas 48 horas, e assinou o decreto que dissolveu instituições venezuelanas. Três anos depois, foi recebida pelo então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, encontro que provocou forte reação em Caracas. Desde então, ela tem consolidado laços com setores conservadores internacionais.

Maria Corina Machado e George W. Bush em 2002. Foto: Casa Branca

Eleita deputada em 2010, perdeu o mandato quatro anos depois por aceitar o cargo de representante do Panamá na Organização dos Estados Americanos (OEA), o que a Constituição venezuelana proíbe sem autorização parlamentar. Durante esse período, pediu sanções internacionais contra o governo Maduro e incentivou protestos que ficaram conhecidos como “guarimbas”, marcados por confrontos violentos.

Machado foi acusada de envolvimento em planos de golpe e impedida judicialmente de deixar o país. Mesmo assim, continuou atuando como uma das principais vozes da oposição. Em 2019, apoiou o autoproclamado governo interino de Juan Guaidó, respaldado pelos Estados Unidos e por aliados regionais de direita, e defendeu abertamente uma “intervenção militar estrangeira” para derrubar Maduro.

Seus discursos seguiram um tom ultraliberal e alinhado à extrema-direita internacional. Em 2012, fundou o partido Vente Venezuela, que defende a privatização de estatais, o Estado mínimo e a predominância da iniciativa privada.

A ex-deputada também assinou a “Carta de Madri”, documento criado pelo partido espanhol Vox com apoio de figuras como Eduardo Bolsonaro, Javier Milei e Giorgia Meloni.

Em 2023, participou de uma audiência no Senado brasileiro, a convite de Sergio Moro. O encontro, promovido pela Comissão de Segurança Pública, contou apenas com parlamentares ligados ao campo bolsonarista, entre eles Hamilton Mourão e Jorge Seif.

Maria Corina Machado no Senado Federal. Foto: José Cruz/Agência Brasil

Durante a sessão, Machado defendeu sanções contra Maduro e disse que estaria disposta a receber senadores brasileiros em Caracas.

Nas primárias da oposição em 2023, venceu com ampla vantagem, mesmo estando inabilitada. Após a decisão do Tribunal Supremo de Justiça que confirmou sua inelegibilidade, tentou indicar Corina Yoris como substituta, sem sucesso. Acabou costurando um acordo para apoiar Edmundo González, que herdou sua base eleitoral e se tornou o principal adversário de Maduro em 2024.

Machado manteve forte presença nas redes sociais. Mesmo sem cargo público, influenciou a narrativa internacional sobre a crise venezuelana e pressionou governos a não reconhecerem o resultado das eleições de 2024.

O Comitê do Nobel destacou que o prêmio reconhecia “a resistência pacífica de uma mulher diante de um regime autoritário e a luta por eleições livres em seu país”. Para o grupo, o caso da Venezuela simbolizava “os desafios de movimentos democráticos em regimes repressivos”.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.