Publicado na DW.
Com um largo sorriso no rosto e um boné na cabeça trazendo o slogan Make America Great Again, o brasileiro José Peixoto, de 56 anos, circula orgulhoso entre importantes republicanos durante um jantar promovido pelo partido em Miami para levantar fundos para as eleições.
“Conheço muita gente aqui, e muita gente me conhece”, diz ele, entre um cumprimento e outro, enquanto todos aguardam a chegada da estrela da noite – o candidato republicano a vice-presidente, Mike Pence.
Ferrenho defensor de Trump para presidente, Peixoto também está concorrendo nas eleições deste ano. O sonho é alto: ele tenta ser o primeiro brasileiro a conquistar uma cadeira na Câmara dos Representantes. Atualmente, segundo levantamento do centro de pesquisa Pew Research, há apenas seis imigrantes entre os 535 membros do Congresso.
Esta é a segunda tentativa de Peixoto de se eleger representante do 26° distrito congressista da Florida, que abrange a região no extremo sul da península, pelos próximos dois anos. Por ali, ele conta, há poucos dos brasileiros 1,1 milhão de brasileiros que vivem nos EUA – fato que não interfere em suas ambições políticas: sua plataforma eleitoral tem pouco apelo junto aos compatriotas.
Assim como Trump, o mineiro da cidade de Ipanema, de cerca de 20 mil habitantes, defende leis de imigração ainda mais rígidas do que as que ele mesmo enfrentou quando desembarcou nos Estados Unidos 31 anos atrás. Para ele, por pelo menos dez anos ninguém deveria ter o direito de obter a cidadania americana, nem qualquer tipo de auxílio do Estado.
“E se precisarem de ajuda do governo, pé na bunda! É obrigação deles [imigrantes] correr atrás do arroz com feijão”, sentencia, dizendo “ter pavor” de estrangeiro que chega aos EUA e não aprende inglês.
Peixoto diz contar com a simpatia de eleitores americanos por não ser porto-riquenho ou cubano – os quais, segundo ele, mais usufruem dos benefícios do governo. Ele ainda gosta de repetir uma frase usada por John F. Kennedy em seu discurso de posse como presidente dos EUA em 1961: “Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas sim o que você pode fazer pelo seu país.”
Questionado sobre o que acha sobre a polêmica proposta do republicano de expulsar os cerca de 11 milhões de imigrantes ilegais que vivem nos EUA, Peixoto – que confessa ter chegado a passar um tempo irregular em terras americanas – ameniza: “Ele usou essa forma de se expressar de forma generalizada, apenas, pois sabe que não tem como mandar todo mundo de volta. Ele quer expulsar apenas os criminosos”, diz.
O mineiro também se alinha a Trump no que diz respeito à entrada muçulmanos em território americano. Enquanto o milionário fala em banir imigrantes vindos de regiões que “exportam terrorismo”, o brasileiro afirma ser “anti-muçulmano, até que se prove que a pessoa é gente boa”. Afinal, continua Peixoto, “eles estão atacando a gente.”
Ideias conservadoras
Como tantos milhares de imigrantes ainda fazem todos os anos, Peixoto deixou o Brasil em 1985 em busca do sonho americano. Trabalhou como engraxate, frentista, caseiro e foi funcionário da rede de lanchonetes Burger King.
Conheceu a esposa, Bianca, em uma curta viagem ao Rio de Janeiro – ela se juntaria a ele na Flórida pouco tempo depois. Mais tarde, os dois receberiam uma proposta para cuidar de uma casa mais ao sul do estado, em Key Largo, região onde o casal se estabeleceu e vive até hoje com os três filhos. Hoje, Peixoto presta serviço de manutenção de casas. A esposa trabalha como professora de ensino primário.
O mineiro conta que o interesse por política surgiu no início dos anos 1980, quando foi cabo eleitoral de Tancredo Neves na campanha para governador de Minas Gerais pelo PMDB. Nos Estados Unidos, filiou-se ao Partido Republicano há pouco mais de 20 anos por acreditar que é o que mais se adequa às suas ideias conservadoras.
Peixoto é contrário à criação de lei que regularize o aborto – mas diz ser contra punição à mulher e aos médicos que realizarem o procedimento – e ao casamento entre homossexuais – embora afirme não ser contra gays. “Sou contra eles quererem impor essa opção deles, dizer às crianças na escola que é normal. Não é!”, diz, taxativo.
“O momento é de Trump”
Além de defender um limite de dois mandatos para congressistas, o principal apelo de sua campanha é o trumpismo. Sua página no Facebook é recheada de memes e vídeos com críticas pesadas a Hillary Clinton, ao presidente Barack Obama e ao socialismo. Ele se autointitula “Trump pobre”, por “falar o que tem vontade sem se preocupar em agradar a todo mundo”, e afirma ser o único candidato de seu distrito a apoiar o magnata.
Mesmo sendo filiado, Peixoto decidiu concorrer como apartidário, evitando as primárias contra o candidato à reeleição, Carlos Curbelo, e postando-se como porta-voz de Trump na corrida local ao Congresso. Curbelo declarou publicamente que não votará no presidenciável republicano.
Apesar da estratégia, o brasileiro está pouco esperançoso de que, desta vez, conseguirá se eleger. Em 2012, quando concorreu pela primeira vez também como candidato independente, ele amargou um último lugar (entre quatro concorrentes), com apenas 1,1% dos votos. O grande obstáculo, afirma, não é o preconceito por ele ser latino, mas sim a falta de apoio financeiro para bancar a campanha.
Ainda assim, ele segue firme na empreitada em favor de Trump no sul da Flórida, carregando faixas e placas com os nomes de Trump e Pence por onde vai e defendendo as polêmicas declarações do milionário, garantindo não ter nada com que ele discorde. Ele rebate as recentes denúncias de mulheres que teriam sido molestadas pelo magnata afirmando que o passado do presidenciável não deveria ser tão relevante no debate. E se opõe à ideia cogitada por alguns republicanos de que Mike Pence, fortemente aplaudido durante o jantar em Miami, deveria assumir a cabeça de chapa.
“O momento é de Donald Trump”, diz.