
A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (12) uma nova fase da Operação Sem Desconto, que investiga um esquema bilionário de fraudes em aposentadorias e pensões do INSS. Entre os alvos está o empresário Fernando dos Santos Andrade Cavalcanti, figura conhecida no meio corporativo e político de Brasília, ex-sócio do advogado Nelson Willians, também investigado.
Cavalcanti é administrador e CEO da Valestra, empresa voltada a serviços de apoio administrativo. Além de sua atuação empresarial, ele se projetou no cenário político da capital federal, especialmente como anfitrião de eventos do LIDE Brasília, grupo de empresários liderado por Paulo Octávio. Em 2023, recebeu da Câmara Legislativa do Distrito Federal o título de Cidadão Honorário de Brasília.
Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos em sua residência no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. Entre os bens apreendidos, chamaram atenção uma Ferrari vermelha, uma réplica do carro de Fórmula 1 usado por Ayrton Senna, relógios de luxo e valores em espécie. A operação busca rastrear a origem e o destino dos recursos, considerados suspeitos de ligação com o esquema fraudulento.
Segundo a investigação, o grupo fraudava cadastros de beneficiários do INSS por meio de associações, utilizando assinaturas falsificadas para justificar descontos indevidos em aposentadorias e pensões. Os valores eram desviados para empresas vinculadas aos investigados. A PF aponta que o prejuízo pode ter alcançado cifras bilionárias.
Além de Cavalcanti, a ação desta sexta-feira resultou na prisão de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, em Brasília, e do empresário Maurício Camisotti, em São Paulo.

Antunes é acusado de atuar como “facilitador” do esquema e teria movimentado 12,2 milhões de reais em apenas quatro meses, repassando mais de 9 milhões a pessoas com ligação direta ao INSS.
Já Camisotti é investigado como sócio oculto de uma entidade beneficiada pelo esquema, recebendo parte dos recursos desviados. Sua prisão reforça a linha de investigação de que empresários de diferentes áreas foram cooptados para dar sustentação ao sistema de desvio.
A prisão de Antunes aconteceu dias antes de seu depoimento à CPI do INSS, instalada para apurar fraudes contra aposentados e pensionistas. A comissão já aprovou a quebra de seus sigilos fiscal, bancário e telefônico. Parlamentares apontam que o depoimento pode revelar detalhes da participação de servidores públicos e empresários na fraude.
A Operação Sem Desconto foi desencadeada após reportagens revelarem indícios de que descontos indevidos eram aplicados em contracheques de aposentados sem autorização dos beneficiários. O nome faz referência direta à promessa das entidades investigadas de que os descontos não existiriam, mas que, na prática, foram aplicados de forma sistemática.
A Polícia Federal informou que seguirá cumprindo diligências para identificar o destino dos recursos desviados e o envolvimento de servidores do INSS. Segundo investigadores, a apuração ainda está em andamento e pode levar a novas prisões e bloqueios de bens.