Por que o motorista de Ribeirão não deu marcha à ré?

Atualizado em 22 de junho de 2013 às 23:10

A morte absurda de um garoto de 18 anos num protesto do MPL.

[youtube id=”EvxXcNl7ot8″ width=”600″ height=”350″]

Por que o empresário Alexsandro Ichisato de Azevedo não deu ré e foi embora?

Essa é a única pergunta que faz algum sentido diante de uma das cenas mais chocantes desde a eclosão da onda de protestos no Brasil (sim, incluindo os quebras quebras dos vândalos).

Alexsandro atropelou a primeira das únicas duas vítimas fatais das manifestações (a segunda é a gari Cleonice de Moraes, de Belém). Marcos Delefrate, de 18 anos, estava no meio de uma multidão que protestava em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Alexsandro chegou com seu carro e tentou passar no meio do grupo. Começou a ser hostilizado.

Aparece uma rua atrás da Land Rover preta blindada.

Por que ele não sumiu ali?

Ao invés disso, Alexsandro avança com seu carro sobre o povo, atinge doze pessoas e segue adiante.

“Não queria ter feito isso, tirar a vida de ninguém, nunca, nunca, nunca, ainda mais a do menino, entendeu?”, disse ele ao jornal A Cidade, de Ribeirão.

“Alex Japonês” tem 37 anos, é casado e tem uma filha de 13 anos. Foi indiciado por homicídio, lesão corporal e omissão de socorro. Não é um neófito na Justiça. Coleciona 26 processos, dos quais cinco são criminais.

“Tentei dialogar, minha esposa falou para irmos embora, eles começaram a chutar o carro. Eu me desesperei e pensei: ‘Esses caras vão linchar a gente’. No desespero, fui embora”.

É uma justificativa ridícula, uma vez que, para ir embora, era muito mais fácil simplesmente dar uma ré, como mostra o vídeo do episódio.

Ele é lutador de jiu jitsu e dono de uma academia de luta marcial. Em 2009 foi preso por dirigir embriagado e por dar tiros de pistola numa placa de estrada. Está num esconderijo, esperando seu advogado orientá-lo sobre o momento em que deve se entregar. O rapaz que matou estava vestindo branco – segundo seus amigos, em nome da paz. Natural de Ribeirão, estudava no Senai.

Logo após o atropelamento, o celular de Marcos tocou. Era sua avó, disseram seus amigos. Eles não tiveram estômago para contar a ela o que houve.

Alexsandro fez o primeiro mártir de uma onda de manifestações que já se tornou histórica. Esse é um dos resultados de sua acelerada ensandecida. Terá de responder por isso.

Agora, ele jamais vai parar de se perguntar, ao ver as imagens de sua loucura, por que não engatou a marcha à ré naquela noite e desapareceu no anonimato escuro com seu jipe.

Alexsandro discute com manifestantes na noite fatal
Alexsandro discute com manifestantes na noite fatal
O garoto Marcos Delefrate
O garoto Marcos Delefrate