
O general da reserva Mario Fernandes entrou no centro das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado ao admitir ao Supremo Tribunal Federal (STF) ser o autor do documento intitulado “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato do presidente Lula (PT), do ministro Alexandre de Moraes e do vice-presidente Geraldo Alckmin. A confissão, feita nesta quinta-feira (24), acendeu o alerta para o papel desempenhado por setores das Forças Armadas nos bastidores do plano golpista.
Fernandes teve uma carreira de alta patente no Exército Brasileiro, onde atuou por décadas antes de ir para a reserva. Seu nome passou a circular com mais força nos círculos do bolsonarismo a partir de 2019, quando se aproximou de assessores militares e civis ligados ao governo de Jair Bolsonaro. Documentos oficiais e postagens em redes sociais indicam que ele já defendia publicamente a anulação das eleições de 2022.
https://twitter.com/delucca/status/1948523379692011765
O general é apontado pela Procuradoria-Geral da República como integrante do chamado núcleo 2 da trama golpista, considerado o grupo responsável por coordenar ações e estruturar as fases do plano de ruptura institucional. Esse núcleo reunia militares da reserva, policiais e assessores com trânsito no Palácio do Planalto e em órgãos de segurança durante o governo Bolsonaro.
Apesar de tentar minimizar a gravidade do “Punhal Verde e Amarelo”, dizendo que se tratava de um “pensamento” jamais executado, Fernandes admitiu ter impresso o material, o que foi considerado um indicativo de que houve preparo. O documento propunha ações armadas para eliminar fisicamente autoridades da República com o objetivo de instalar um novo regime político.
Fontes ligadas à investigação apontam que Mario Fernandes mantinha contato com outros militares já denunciados pelo STF, como o ex-major Ailton Barros e o tenente-coronel Mauro Cid. Relatórios de inteligência também indicam que ele participou de reuniões sigilosas no fim de 2022, após a derrota de Bolsonaro nas urnas.
O nome de Fernandes já havia surgido em publicações da extrema direita antes mesmo da confissão, mas sempre cercado de silêncio por parte das autoridades militares. Até o momento, o Exército Brasileiro não se pronunciou sobre sua eventual atuação enquanto na ativa ou sobre o conhecimento de suas ideias extremistas.
A inclusão de Fernandes na Ação Penal 2668 ajuda a traçar um mapa mais claro sobre como setores fardados e civis atuaram de forma coordenada para inviabilizar a posse de Lula. A investigação deve agora avançar sobre possíveis ramificações de sua influência e se outros oficiais da ativa foram coniventes ou cúmplices da conspiração.