Quem é o homem que enganou o mundo fingindo ser intérprete de surdos no funeral de Mandela

Noventa e um chefes de estado discursaram no funeral de Nelson Mandela, mas quem roubou a cena foi um sujeito de estatura mediana, ligeiramente obeso, que tinha a obrigação de passar despercebido. O intérprete de linguagem gestual para surdos-mudos, descobriu-se, era um impostor e enganou o mundo durante a longa cerimônia.

Ou melhor, quase todo o mundo. Ao ver que os sinais não tinham o menor sentido, associações de surdos, ultrajadas, enviaram reclamações para o governo. “Ele simplesmente inventou”, disse Delphin Hlungwane, um intérprete oficial sul-africano.

Uma caçada teve início. Afinal, o homenzinho ficara a pouco metros de Obama. O CNA, Congresso Nacional Africano, partido do presidente Jacob Zuma, não tinha resposta para a pergunta primordial: como ele foi parar ali? Porta-vozes do CNA afirmaram que a polícia estava em busca do suspeito, mas não tinha condições naquele momento por causa da comoção em torno da morte de Mandela.

Ele é provavelmente o maior penetra de todos os tempos. Um Forrest Gump mais audacioso. Tinha um passe de segurança em torno do pescoço. Teria enganado muita gente? Ou contava com uma rede de cúmplices? Ou acreditava que estava traduzindo alguma coisa?

Bem, ele acabou sendo identificado. Seu nome é Thamsanqa (Thami) Jantjie. Jantjie foi fotografado nos bastidores do estádio Soccer City com seu crachá, sentado numa boa no que parece ser uma sala de reuniões.

Segundo o jornal ‘Star’, de Johanesburgo, ele declarou que começou a ouvir vozes e sofrer alucinações quando estava na tribuna. Alegou ser esquizofrênico. “Não havia nada que eu pudesse fazer. Eu estava sozinho, numa situação muito perigosa. Tentei me controlar e não mostrar ao mundo o que estava acontecendo. Lamento muito. É a situação na qual me vi”, disse ele, que estava feliz com seu desempenho. “Acho que sou um campeão da linguagem de sinais”.

Jantjie já havia aparecido num evento do CNA no ano passado, “traduzindo” o presidente Jacob Zuma. Zuma cantou um hino de resistência chamado “Kill The Boer”. Num trecho sobre pegar em armas, Jantjie não teve dúvidas e executou os movimentos de uma metralhadora com as mãos (assista o vídeo abaixo). Engenhoso, mas uma pessoa com deficiência auditiva na plateia notou a palhaçada, filmou tudo e entregou para as autoridades competentes.

Na ocasião, ele foi condenado a fazer um curso de cinco anos para se tornar tradutor de sinais. Desta vez, tudo indica que Thami Jantjie não vai ter essa moleza. O mundo perde um grande ator, mas quem o viu em ação jamais esquecerá.