Quem é o médico preso em SP após 42 pacientes morrerem em cirurgias

Atualizado em 15 de dezembro de 2023 às 14:16
Dr. João Couto Neto é investigado por 42 mortes em cirurgias. Foto: reprodução

O médico cirurgião João Batista de Couto Neto, de 46 anos, que se apresentava como especialista em cirurgias do aparelho digestivo, é alvo de investigações por dezenas de casos de negligência médica que resultaram em mortes e mutilações em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul.

Ele foi preso na noite de quinta-feira (14) em Caçapava, São Paulo. O mandado de prisão preventiva foi emitido pelo juiz Guilherme Machado da Silva, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.

Couto Neto, indiciado por homicídio doloso com base em três inquéritos concluídos, é suspeito de envolvimento em pelo menos 42 mortes e 114 casos de lesão corporal. O médico havia renovado seu registro no Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) no início do ano, após a suspensão anterior ter vencido em outubro.

O advogado do médico, Brunno de Lia Pires, criticou a prisão, classificando-a como uma “antecipação de pena” e anunciou que entrará com um pedido de habeas corpus.

Os inquéritos concluídos, que resultaram no primeiro indiciamento do cirurgião, referem-se às mortes de dois homens e uma mulher. O Cremesp afirmou que aceitou o registro de Couto Neto mesmo sabendo da suspensão anterior, pois esta era parcial.

Há um ano, Couto Neto foi afastado por 180 dias das cirurgias por decisão judicial. Nas redes sociais, ele exibia orgulhosamente mais de 25 mil cirurgias realizadas em 19 anos de carreira, o que dá uma média de cerca de 1,3 mil por ano. Seu perfil contava com mais de 15 mil seguidores no Instagram e 13 mil no Facebook.

João Couto Neto preso em SP por policiais civis — Foto: Divulgação / Polícia Civil

Em uma publicação de dezembro de 2022, quando ultrapassou a marca de 20 mil cirurgias, o cirurgião exaltou o exercício da medicina, afirmando cumprir os mais elevados preceitos médicos.

Acusações de erro médico começaram a surgir, e familiares de vítimas relataram casos graves. Um dos depoimentos, de Daniel Fernandes, descreve a mãe como vítima de perfurações no estômago e bexiga, passando por nove cirurgias de tentativa de reparação.

As investigações lideradas pelo delegado Tarcísio Kaltbac apontam que Couto Neto chegava a realizar até 25 operações em um único turno de plantão, acumulando cirurgias de forma desumana, o que levava a negligências e erros médicos. Há suspeitas de que o comportamento visava aumentar ganhos financeiros.

Kaltbac expressou perplexidade diante do comportamento cruel do médico, citando casos em que ele operava regiões do corpo erradas e causava danos irreversíveis. Fotos mostram pacientes com a barriga aberta, apodrecendo, enquanto o médico não receitava tratamento. O delegado revelou casos de tentativa de suicídio dentro do hospital devido à dor.

O delegado Kaltbac afirmou que Couto Neto, mesmo diante das denúncias e evidências, continuava atuando como se nada estivesse ocorrendo.

A filha de uma vítima, Cristiana Costa, relatou a “soberba e o descaso” do médico, mencionando que sua mãe, após nove cirurgias, acabou falecendo com uma cratera na barriga.

O médico será alvo de ação judicial, e familiares das vítimas esperam justiça diante dos casos de negligência e crueldade deliberada.

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