Quem é o senador por trás da Frente Evangélica e da Brasil-Israel, que fazem dobradinha para atacar o governo Lula

Atualizado em 20 de janeiro de 2024 às 8:31
Carlos Viana e Damares em culto no Congresso: o estado era laico. Foto: reprodução

Dois dos grupos parlamentares mais reacionários no Congresso, a Frente Parlamentar Evangélica e o Grupo Parlamentar Brasil-Israel, decidiram fazer uma dobradinha contra o governo do presidente Lula, defendendo não só sua agenda, mas usando a força de suas bancadas para atacar causas recíprocas.

O senador Carlos Viana (Podemos-MG) acumula hoje os cargos de presidente da Frente Parlamentar Evangélica no Senado – no Congresso, o papel cabe ao deputado Silas Câmara (Republicanos-AM) – e de presidente do Grupo Brasil-Israel, braço legislativo da Confederação Israelita do Brasil (Conib), lobista dos interesses sionistas no país.

Se um grupo tem seus interesses contrariados, lá está Viana, ou um de seus integrantes, atuando, numa espécie de bancada religiosa conjunta.

A simbiose das duas bancadas, comandadas pelo mesmo capitão, tem outros tripulantes em comum. O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que já foi presidente da Frente Parlamentar Evangélica e um de seus mais frequentes porta-vozes, é o atual 4º secretário do grupo Brasil-Israel. As deputadas Greyce Elias (Avante-MG) e Rosana Valle (PL-SP) também integram as duas frentes, a dos evangélicos e judeus.

O 1º vice-presidente do grupo Brasil-Israel, o senador Alan Rick (União-AC), é pastor evangélico da Igreja Batista do Bosque. Ele também foi um dos signatários da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional. Trabalha para se cacifar como candidato ao governo do estado nas eleições de 2026.

Exaltado em suas redes, como um político cordial, Rick é mais lembrado por um ataque de fúria – devidamente gravado – contra um atendente da companhia aérea Latam no aeroporto de Brasília depois de perder um voo para Rio Branco. Ele bate no balcão e grita com o funcionário após ser avisado que só poderia embarcar no dia seguinte. “O caralho, você tem que me respeitar, rapaz”, esbravejou Alan Rick. No ano passado, Rick chegou a ter suas contas nas redes sociais bloqueadas por supostamente apoiar os atos golpistas de 8 de janeiro.

O Grupo Parlamentar Brasil-Israel passou a defender publicamente uma causa prioritária da frente de seus irmãos evangélicos, a possibilidade de retornar com a isenção fiscal para líderes religiosos. Um ato da Receita Federal na quarta, 17, suspendeu a isenção. Os evangélicos foram fortes críticos à decisão do presidente Lula de apoiar a África do Sul em ação contra Israel por genocídio. A ação movida está em julgamento na Corte Internacional de Justiça em Haia.

Carlos Viana (esq.) e Zambelli com autoridades israelenses. Foto: reprodução

“As Frentes Parlamentares Evangélicas do Congresso Nacional e do Senado Federal repudiam veementemente o apoio do governo brasileiro à África do Sul em ação interposta na Corte Internacional de Justiça contra o Estado de Israel”, declararam as frentes, em nota divulgada em redes sociais. Viana está por trás das duas assinaturas.

Em outubro passado, a bancada evangélica do Congresso fez um culto pela “paz” em Israel, com a presença do embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine. O “culto pela paz”, evidentemente, tinha um lado. Não havia nenhum líder palestino convidado. No governo Bolsonaro, a Frente Parlamentar Evangélica cobrava, em sessões, a transferência da embaixada de Israel para Jerusalém, um desejo de Tel Aviv. Liga Árabe ou palestinos jamais foram ouvidos nessas audiências.

Enquanto a Frente Parlamentar Evangélica no Congresso funciona desde setembro de 2003, sendo regularizada na mesa diretora da Câmara em 2015, o Grupo Parlamentar Brasil-Israel surgiu somente em março do ano passado – portanto, antes dos ataques do Hamas, em outubro, e da resposta de Israel. A primeira é composta, segundo sua própria contabilidade, por 132 deputados e 14 senadores – nem todos de oposição ao governo Lula, e nem todos tão atuantes assim ao assopro de apito de sua liderança formal. O Grupo Parlamentar Brasil-Israel ainda não divulgou o tamanho de sua bancada, mas são pelo menos oito os membros da mesa diretora.

Sobre a questão dos impostos, tema do momento, o senador Carlos Viana posou de moderado quando esteve com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esperando talvez que haja uma revisão da decisão. O discurso endiabrado coube a Silas Câmara que, em nome da frente, emitiu nota de repúdio à decisão da Receita Federal e chamando o ato de “ataque explícito” a um segmento religioso.

O governo Bolsonaro concedeu isenção fiscal a igrejas em julho de 2022, às vésperas das últimas eleições, num dos seus muitos atos casuísticos, no limite da ilegalidade. Os atos não tratam especificamente de igrejas evangélicas, mas da questão que deu origem à polêmica gira em torno da chamada prebenda, como se denomina a remuneração paga ao pastor ou líder do ministério religioso por seus serviços.

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Mineiro, jornalista, assessor de imprensa e analista sênior de informações. Ex-professor universitário, repórter e editor de jornais e revistas nacionais. Como repórter, ganhou, entre outros, prêmios Esso, Embratel e Herzog