Quem é o trompetista que invade transmissões da Globo e toca ‘Olê, olê, Lula’

Atualizado em 24 de julho de 2018 às 14:09
Fabiano Leitão, o trompetista (Foto: Reprodução/Gibran Mendes)

Publicado na Fórum

Já se tornou tradição durante boletins nos telejornais da Rede Globo, o som melodioso de um trompete, tocando ao fundo o jingle da campanha de Lula de 1989, a famosa “Olê, olê, olê, olá. Lula, Lula”. Quase semanalmente, o trompetista mostra sua arte, ao vivo, invadindo links da emissora, para protestar contra a prisão do ex-presidente e “ridicularizar a grande mídia, principalmente a Globo, que manipula muito a informação”, como ele mesmo explica.

Fabiano Leitão, 38 anos, casado, dois filhos, é motorista de aplicativo e músico na noite de Brasília, onde nasceu e mora. Suas intervenções já não se limitam aos telejornais da Globo.

No último final de semana, ele participou de duas verdadeiras festas espontâneas, que ocorreram nos mercados municipais de Belo Horizonte (no sábado) e Curitiba (domingo), quando dezenas de pessoas entoaram o jingle de Lula, ao som do trompete de Fabiano. “Com certeza, é um ato político”, resume. Ele conta com exclusividade à Fórum detalhes de suas intervenções.

Como surgiu a ideia de fazer essas intervenções, tocando o jingle do Lula? O que o motivou a fazer isso?

A ideia surgiu depois da queda da nossa presidenta Dilma Rousseff. No dia do impeachment dela, a gente fez a primeira invasão de link, só que foi sem o trompete. A gente pulou a grade do STF (Supremo Tribunal Federal) e gritou “William Waack golpista” e “Globo golpista”. Aí, fomos agredidos pelos seguranças do STF. Essa foi a primeira intervenção.

Depois, com o mandado de prisão do ex-presidente Lula, expedido pelo juiz Moro, a gente reativou a ideia de invasão dos links, só que com o trompete, uma coisa mais elaborada, que não gera agressão física. Então, comecei a invadir o Jornal da Globo, em sequência o Jornal Hoje até que a gente conseguiu pegar o Jornal Nacional. Ao todo foram sete invasões de links, duas no Jornal Nacional, três no Jornal da Globo e duas no Jornal Hoje. E tem o pessoal da Record, também. Foram duas no Jornal da Record para o queridíssimo Paulo Henrique Amorim.

O início foi entrando nos boletins ao vivo da Globo. Por que escolheu participar de alguma forma das reportagens da Globo homenageando Lula e alguma vez você sofreu algum tipo de pressão para parar de tocar?

Jamais houve alguma tentativa de agressão ou xingamento por parte da segurança, tanto da Globo quanto da Record. Às vezes o repórter fica um pouco chateado, pois ele ficou ensaiando aquele texto por algum tempo, o iluminador ou o câmera fica chateado. Mas nunca houve violência por parte da Globo ou da Record.

Em sua avaliação, quais os efeitos e a importância das suas intervenções diante do cenário atual do Brasil?

Com certeza, é um ato político. A gente faz isso com três objetivos básicos: primeiro, nunca tirar nosso presidente Lula da pauta; segundo, que acho muito importante, é animar a militância. Afinal, todo militante acha muito engraçado quando a gente invade o link, deve vibrar. Isso faz com que ele se anime, o que é importante na nossa luta. E o terceiro é ridicularizar a grande mídia, principalmente a Globo, que manipula muito a informação, a gente fica refém das informações que eles passam.

Como foi a reação da população nas intervenções realizadas nos mercados municipais de Belo Horizonte (sábado, 21) e Curitiba (domingo, 22)?

Essas intervenções de BH e Curitiba foram manifestações populares. A gente chegou, tocou e viu que o povo reagiu positivamente. Causou bastante surpresa, principalmente em Curitiba, pois o Mercado Municipal é frequentado pelas elites. Mas a gente viu a manifestação do povo em favor do Lula e ficamos muito felizes com isso.

Como você faz para se deslocar de cidades e fazer as intervenções? Recebe algum apoio com as despesas?

Pois é. É tudo através de “vaquinha” solidária de companheiros abnegados, que ajudam nossa luta. Eu, por exemplo, não tenho recursos. Sou motorista de aplicativo e músico. Já fui professor de um projeto social que a gente executa, mas eu não tenho recursos. Sou um assalariado como todos os brasileiros que estão passando necessidade.

O que acha de Lula e do atual cenário político do Brasil?

Lula é hoje o maior líder de esquerda no mundo. Não tem muito o que acrescentar. Talvez ele seja a única esperança desse país ter igualdade social. Quanto ao momento político, o Brasil está em um estado de exceção, nós não temos garantias constitucionais, o Judiciário é totalmente partidário e há uma perseguição política. Lula é um preso político. Aliás, a perseguição política não é só contra o Lula, mas contra as lideranças de esquerda. A gente está aqui para lutar contra isso.