Quem é o único político que consegue fazer Rodrigo Maia sorrir

Atualizado em 19 de dezembro de 2020 às 15:16
Maia e Baleia Rossi

A foto chama a atenção por apresentar um fato raro: Rodrigo Maia sorrindo. Um experiente observador da politica diz que, hoje, Baleia Rossi é o único político capaz de fazer o presidente da Câmara dar um sorriso largo.

Pode observar: Maia está quase sempre com a expressão de um jovem atormentado. Ou, quando sorri, dá um sorriso que parece forçado.

Quando Maia surgiu em cena, Gregório Duvivier o definiu como o “guri com cara de quem foi apanhado na punheta”.

Mas por que Rossi o deixa relaxado?

Pode ter mais de um motivo, mas com certeza reflete a posição de poder que ocupam.

Os dois são a face nova do que há de mais velho na política: o parlamento como instrumento de negócios.

No depoimento de delação que deu na Lava Jato, em 2017, o ex-diretor da Odebrecht em Brasília Cláudio Mello disse que seu trabalho era mapear figuras do parlamento que podiam assegurar contratos da empresa com o governo federal —  em qualquer governo, de qualquer partido.

E investiu nesses deputados e senadores.

Ele citou Michel Temer, Eduardo Cunha, Moreira Franco, Eliseu Padilha, Romero Jucá, Renan Calheiros.

A relação era azeitada com propina, fosse na forma de doação para campanhas ou ajuda para supostos projetos.

Genro genérico de Moreira Franco, Maia é o titular desse time que, em parte, já não está mais em campo — o que não dizer que não participe do jogo, em outra função.

Baleia Rossi é filho de Wagner Rossi, que foi ministro dos governos de Lula e Temer por indicação de Temer.

Rossi também foi secretário de Educação no governo de Quércia, entre 1989 e 1990.

Durante os anos 90, foi deputado federal e integrou a base de Fernando Henrique Cardoso.

Era, na época, ligado a Luís Carlos Santos, uma raposa da política que já faleceu. Ministro de Fernando Henrique, Santos dizia ser capaz de “dar nós em fumaça”.

Em 1995, quando o PMDB entrou formalmente na base de FHC, a bancada ensaiou uma rebelião.

Luís Carlos Santos seria o líder, mas um até então discreto deputado se apresentou para ocupar o seu lugar, com capital não apenas político, digamos assim.

O nome dele: Michel Temer.

Os deputados, Wagner Rossi entre eles, se reuniram com Santos e falaram que tinham escolhido Michel Temer como líder.

Santos não se surpreendeu. Também deputado federal, disse que Temer era também seu candidato a líder. E emendou: “e eu serei líder do governo”, e conto com o apoio de vocês”.

Ou seja, enquanto os deputados achavam que estavam puxando o tapete de Santos, ele já havia se acertado com Fernando Henrique Cardoso e Sérgio Motta, sócio e principal ministro do então presidente.

Líder do movimento que derrubou Dilma para dar poder a Temer, com um processo de impeachment sem crime de responsabilidade, Baleia Rossi é o candidato de Maia para tentar vencer Arthur Lira, do PP, o candidato de Bolsonaro.

Maia pode ter apoio de setores da esquerda, inclusive o PT, que terá de explicar que o apoio a um golpista de 2016 representa a defesa da democracia em 2020.

Difícil, mas não impossível.

Enquanto isso, Rodrigo Maia ri satisfeito ao lado do amigo.

 

Joaquim de Carvalho
Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com