
A foto chama a atenção por apresentar um fato raro: Rodrigo Maia sorrindo. Um experiente observador da politica diz que, hoje, Baleia Rossi é o único político capaz de fazer o presidente da Câmara dar um sorriso largo.
Pode observar: Maia está quase sempre com a expressão de um jovem atormentado. Ou, quando sorri, dá um sorriso que parece forçado.
Quando Maia surgiu em cena, Gregório Duvivier o definiu como o “guri com cara de quem foi apanhado na punheta”.
Mas por que Rossi o deixa relaxado?
Pode ter mais de um motivo, mas com certeza reflete a posição de poder que ocupam.
Os dois são a face nova do que há de mais velho na política: o parlamento como instrumento de negócios.
No depoimento de delação que deu na Lava Jato, em 2017, o ex-diretor da Odebrecht em Brasília Cláudio Mello disse que seu trabalho era mapear figuras do parlamento que podiam assegurar contratos da empresa com o governo federal — em qualquer governo, de qualquer partido.
E investiu nesses deputados e senadores.
Ele citou Michel Temer, Eduardo Cunha, Moreira Franco, Eliseu Padilha, Romero Jucá, Renan Calheiros.
A relação era azeitada com propina, fosse na forma de doação para campanhas ou ajuda para supostos projetos.
Genro genérico de Moreira Franco, Maia é o titular desse time que, em parte, já não está mais em campo — o que não dizer que não participe do jogo, em outra função.
Baleia Rossi é filho de Wagner Rossi, que foi ministro dos governos de Lula e Temer por indicação de Temer.
Rossi também foi secretário de Educação no governo de Quércia, entre 1989 e 1990.
Durante os anos 90, foi deputado federal e integrou a base de Fernando Henrique Cardoso.
Era, na época, ligado a Luís Carlos Santos, uma raposa da política que já faleceu. Ministro de Fernando Henrique, Santos dizia ser capaz de “dar nós em fumaça”.
Em 1995, quando o PMDB entrou formalmente na base de FHC, a bancada ensaiou uma rebelião.
Luís Carlos Santos seria o líder, mas um até então discreto deputado se apresentou para ocupar o seu lugar, com capital não apenas político, digamos assim.
O nome dele: Michel Temer.
Os deputados, Wagner Rossi entre eles, se reuniram com Santos e falaram que tinham escolhido Michel Temer como líder.
Santos não se surpreendeu. Também deputado federal, disse que Temer era também seu candidato a líder. E emendou: “e eu serei líder do governo”, e conto com o apoio de vocês”.
Ou seja, enquanto os deputados achavam que estavam puxando o tapete de Santos, ele já havia se acertado com Fernando Henrique Cardoso e Sérgio Motta, sócio e principal ministro do então presidente.
Líder do movimento que derrubou Dilma para dar poder a Temer, com um processo de impeachment sem crime de responsabilidade, Baleia Rossi é o candidato de Maia para tentar vencer Arthur Lira, do PP, o candidato de Bolsonaro.
Maia pode ter apoio de setores da esquerda, inclusive o PT, que terá de explicar que o apoio a um golpista de 2016 representa a defesa da democracia em 2020.
Difícil, mas não impossível.
Enquanto isso, Rodrigo Maia ri satisfeito ao lado do amigo.