
Único réu a acompanhar presencialmente o primeiro dia do julgamento da trama golpista nesta terça-feira (2), o ex-ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira Oliveira, compareceu ao Supremo Tribunal Federal (STF) como um gesto em “defesa da honra”, disseram aliados do militar à CNN Brasil.
Preso no Rio de Janeiro, o general e ex-candidato a vice-presidente Walter Braga Netto está acompanhando a sessão por videoconferência, enquanto os demais réus optaram por assistir ao julgamento pela televisão. Segundo a CNN, interlocutores de Paulo Sérgio afirmam que a decisão tem caráter simbólico, com o objetivo de transmitir confiança em sua inocência e marcar posição em defesa da própria trajetória no Exército.
Um militar próximo ao general resumiu a escolha como uma tentativa de preservar sua biografia e a farda que vestiu por décadas. Apesar disso, Paulo Sérgio não usou uniforme durante a sessão e compareceu de terno. A expectativa é de que ele retorne ao STF para acompanhar a continuação da sessão, marcada para quarta-feira (3).
A defesa do ex-ministro destacou que, ao final das eleições de 2022, Paulo Sérgio atuou diretamente para impedir que o então presidente Jair Bolsonaro adotasse medidas de exceção.
Os advogados relataram que o general temia que “grupos radicais” levassem o presidente a assinar uma “doideira” e que alguma liderança militar “levantasse o braço” e rompesse a cadeia de comando, comprometendo a integridade das Forças Armadas.
“Assim, por TEMER que grupos radicais levassem o Presidente a assinar uma ‘doideira’ e que alguma liderança militar ‘levantasse o braço’ e rompesse, o que poderia acarretar uma fissura nas Forças Armadas, sendo manifestamente contrário a qualquer medida de exceção (atuando, inclusive, para demover o Presidente da adoção de qualquer medida nesse sentido) foi que o General Paulo Sérgio, como Ministro da Defesa preocupado com a situação, convocou uma reunião para o dia 14/12/2022”, informaram os advogados nas alegações finais.

Bolsonaro ficou em casa
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não compareceu ao STF nesta terça-feira devido a recomendações médicas relacionadas a um quadro de soluços intermitentes que se arrasta desde a facada sofrida em 2018. Segundo aliados, os episódios recentes provocaram irritação no esôfago, vômitos frequentes e rouquidão, deixando o ex-presidente fisicamente debilitado.
De acordo com interlocutores, Bolsonaro tem “soluçado muito” e as crises evoluem para náusea e vômito, afetando sua voz. “Ele disse que isso machucou a voz, que não está boa”, relatou uma fonte próxima.
Médicos consideraram a fragilidade física um fator de risco para a longa sessão do STF. Além disso, o uso intenso de medicamentos reduziu o apetite e o ânimo nos últimos dias, e aliados também ponderaram que a exibição de fragilidade poderia sobrepor-se à narrativa de perseguição política.
O ex-presidente acompanha o julgamento de sua residência em Brasília, cercado pela família. Durante a primeira parte do julgamento, nesta manhã, Bolsonaro foi visto andando impaciente na garagem, respondendo apenas que está acompanhando quando questionado. Perguntado sobre seu estado durante a análise do processo, ignorou o jornalista e virou as costas.
Durante o dia, Bolsonaro recebeu a visita dos vereadores Carlos Bolsonaro (PL), do Rio de Janeiro, e Jair Renan (PL), de Balneário Camboriú (SC). Mais cedo, ele se aproximou do portão de sua casa para encontrá-los. O “filho 04” também esteve na calçada, mas não conversou com profissionais de imprensa.