O biólogo Paolo Zanotto é a figura que mais aparece no vídeo que mostra médicos desaconselhando o presidente Jair Bolsonaro a comprar a vacina contra covid-19, numa reunião no Palácio do Planalto em 8 de setembro.
As filmagens reforçam a suspeita de que havia um “ministério paralelo” da Saúde orientando Bolsonaro clandestinamente sobre ações de combate à pandemia.
No vídeo, Zanotto faz um discurso sugerindo a criação de um “shadow cabinet”, um grupo oculto para discutir o “tratamento precoce”, e orienta o presidente a tomar “extremo cuidado” com os imunizantes.
“Com todo respeito, eu acho que a gente tem que ter vacina, ou talvez não”, afirma.
Mas apesar da propriedade transmitida em suas palavras, Paolo Zanotto nem médico é.
“É um biólogo inexpressivo”, afirma o infectologista Marcos Caseiro, que trabalhou com ele no Laboratório de Retrovirologia do Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp).
Caseiro afirma que ele se desligou do laboratório por questões não definidas e, posteriormente, arrumou espaço no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, pelo qual foi repreendido publicamente, em abril do ano passado, após defender nas redes sociais o uso da hidroxicloroquina contra o coronavírus.
Em uma publicação no Facebook, Zanotto compartilhou matérias sobre efeitos positivos do medicamento e escreveu: “O pavoroso é ver médicos desprezando estes fatos por questão ideológica. Mas ouçam o povo pedindo o remédio do Trump nos EUA e o remédio do Bolsonaro no Brasil…”
Em outra, ele tirou sarro da China e do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, ao compartilhar uma caricatura dele usando uma máscara estampada com a bandeira chinesa cobrindo seus olhos. “Tedros e a vassalagem”, escreveu.
Orientador do mestrado e doutorado do pesquisador Atila Iamarino, o biólogo tem uma produção interessante na área de virologia, mas se tornou um “bolsonarista perigoso” durante a pandemia, segundo o Dr. Marcos.
“Apesar de não ser médico, ele deu vários palpites sobre a questão dos remédios contra a covid mesmo sem entender absolutamente nada, porque não tem formação para isso”, diz.
Propagandista do “tratamento precoce” e contra a vacinação, Zanotto ganhou reconhecimento da comunidade “científica” pró-Bolsonaro, chegando a ser cotado para assumir o Ministério da Saúde em maio de 2020.
O médico bolsonarista Rubens Amaral o citou numa entrevista (veja o vídeo no fim da matéria) e disse que ele é “um dos maiores virologistas do mundo”.
“Ele diz, claramente: não se vacina em pandemia. Você pressiona as duas pessoas que são os players do sistema: o ser humano e o vírus. Os dois vão se defender e, tentando se defender, um morre e o outro muda. Então, a gente não vacina na pandemia, a gente trata”, afirma Amaral, incompreensível.
Assim como a oncologista Nise Yamaguchi, que não sabe a diferença entre um vírus e um protozoário, Zanotto é mais um charlatão negacionista que ganhou espaço graças à ignorância de Bolsonaro e, junto a outros médicos desqualificados, contribui fortemente para a escassez de vacinas e para o genocídio dos brasileiros.