
O general da reserva Richard Fernandez Nunes voltou ao debate público após declarar que resistir às investidas do bolsonarismo por um golpe era “a única postura plausível e imaginável para um chefe militar”. A declaração ganhou ainda mais relevo porque, em setembro deste ano, o presidente Lula o nomeou para uma nova função.
O general, que havia deixado o posto de chefe do Estado-Maior do Exército e passado à reserva em julho, assumiu o cargo de diretor-geral do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia, ligado ao Ministério da Defesa.
A chegada de um militar ao comando da segurança do estado quebra um intervalo de mais de duas décadas. A última vez que um oficial das Forças Armadas comandou a pasta foi em 1999, com o general José Siqueira da Silva.
No caso de Richard, a indicação reforça o protagonismo de um oficial que construiu carreira extensa no Exército, marcada por passagens por unidades de formação e comandos de grande relevância.
Ele ingressou na Escola Preparatória de Cadetes em 1978, tornou-se aspirante a oficial da Artilharia em 1984 pela Academia Militar das Agulhas Negras e, ao longo dos anos, concluiu a graduação em Direito pela Uerj e diversas especializações.
Entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015, comandou a ocupação do Complexo da Maré, um dos casos mais delicados da presença militar no Rio. Em 2018, foi escolhido para chefiar a Secretaria de Segurança Pública durante a intervenção federal decretada no governo Michel Temer e coordenada por Walter Braga Netto.

Ao longo da carreira, ele ocupou funções estratégicas como o Comando Militar do Nordeste, o Centro de Comunicação Social do Exército e, mais recentemente, a chefia do Estado-Maior do Exército, o segundo posto mais alto da hierarquia militar.
Richard permaneceu nessa função até julho de 2023, quando passou à reserva. Um mês depois, assumiu o comando do Censipam, órgão do Ministério da Defesa responsável por monitoramento e ações de gestão na Amazônia Legal.
A posição contra o golpismo fez dele alvo de ataques de apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro. Relatórios da Polícia Federal registram que ele foi um dos generais pressionados a aderir ao plano de impedir a posse de Lula após as eleições de 2022, pressão que rejeitou.
Em grupos bolsonaristas, passou a ser chamado de “melancia”, termo usado pejorativamente para acusar militares de serem “vermelhos por dentro”.
A PF também cita o general em outra investigação: a indicação do delegado Rivaldo Barbosa para chefiar a Polícia Civil em 2018, quando Richard comandava a Secretaria de Segurança do Rio. O relatório afirma que ele sustentou a nomeação mesmo diante da resistência de setores da inteligência, embora não haja apontamento de que tivesse conhecimento de qualquer irregularidade envolvendo o delegado.