O bolsonarista Rodrigo Manga (Republicanos), prefeito de Sorocaba, no interior de São Paulo, virou sensação nas redes sociais com seus vídeos humorísticos no TikTok para maquiar escândalos da sua gestão. Nesta quinta-feira (10), ele tornou-se alvo da Operação Copia e Cola da Polícia Federal.
A ação investiga suspeitas de fraude em contratos da saúde pública que podem ter desviado R$ 60 milhões dos cofres municipais. Enquanto anunciava academias ao ar livre e drones de resgate em posts virais, Manga acumulava pelo menos quatro investigações criminais por esquemas de corrupção.
“Tudo indica o ajuste de vontades entre prefeito, secretário da Educação, o dono da empresa Carthago e outros de sangrar os cofres públicos, notadamente as verbas da educação”, apontou o Ministério Público de São Paulo em 2023, ao bloquear os bens de Manga por suspeita de superfaturamento em kits de robótica escolar. O caso, que envolveu R$ 26 milhões, foi apenas o primeiro de uma série.
A operação atual revela um modus operandi similar: a PF apura fraudes na contratação de uma Organização Social para gerir serviços de saúde. Entre os 28 endereços vasculhados, incluíram-se a casa do prefeito e a sede da prefeitura.
“Foram encontrados indícios de lavagem de dinheiro por meio de depósitos em espécie, pagamento de boletos e negociações imobiliárias”, informou a PF. Na casa de um empresário suspeito, agentes se surpreenderam com um arsenal de armas regulares de grande poder de fogo.
Antes da fama, o bolsonarista já era conhecido na região de Sorocaba, mas em outra carreira. Ele se apresentava nas igrejas como Missionário Rodrigo Manga na igreja Cruzada de Milagres, ligada à sua cunhada. Na operação realizada pela PF nesta quinta-feira, a investigação encontrou repasses de à igreja liderada pelo bispo Josivaldo Batista e pela pastora Simone.
Mesmo diante dos escândalos em sua gestão, a estratégia nas redes sociais para maquiar os problemas tem funcionado. Com 263 mil votos na reeleição (73,75% dos válidos) em 2024, Manga conquistou sorocabanos anunciando ônibus gratuitos para estudantes e computadores públicos por meio de vídeos que viralizaram nas redes sociais.
Seu projeto de transformar a cidade na “Orlando brasileira” ganhou alcance nacional, assim como uma simulação racista com a Guarda Municipal, onde apenas jovens negros apareciam sendo revistados – caso agora investigado pelo MP.
▶️ MPSP aceita denúncia de racismo contra “prefeito tiktoker” de Sorocaba
Prefeito tiktoker de Sorocaba, Rodrigo Manga, foi acusado de racismo por vídeo que simula detenção de agressores de mulheres
Leia: https://t.co/sCJ6MdY208 pic.twitter.com/u9sdbYvRRI
— Metrópoles (@Metropoles) March 20, 2025
Aliado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), Manga já manifestou pretensões nacionais. “Caso Tarcísio opte por ficar de fora da disputa presidencial no próximo ano, eu me candidataria”, declarou à CNN na semana passada, revelando conversas com a cúpula do Republicanos e até oferta do PRTB de Pablo Marçal.
No início deste ano, após viralizar com os vídeos engraçados, influenciadores e usuários comuns do TikTok derrubaram a máscara sobre a cidade e criaram uma “trend” irônica sobre a suposta qualidade de vida de Sorocaba.
“Conhecendo a Disney que ficou pronta em Sorocaba”, postou o influencer Lucas Bley, com mais de 3,5 milhões de seguidores, que postou fotos e vídeos gravados em Orlando, nos Estados Unidos. Lactea, que é seguido por mais de 4,2 milhões de pessoas, também ironizou, compartilhando imagens paradisíacas de montanhas cobertas por neves: “finalmente você visitou Sorocaba”, escreveu.
Para a “zoeira” ficar completa, o perfil do Duolingo, plataforma de curso de idiomas, também entrou na onda e registrou sua mascote de mudanças para a cidade no interior de São Paulo.
@laactea valeu sorocaba
Com a repercussão nacional, outros influenciadores passaram a expor o que Manga tenta esconder com tanto engajamento nas redes sociais: ele já foi preso por corrupção.
Além da Operação Copia e Cola da Polícia Federal, também avançam contra Manga as seguintes investigações:
– Operação Sepsis (PF/CGU): desvios em licitações e uso de “laranjas”
– Segundo inquérito do MP-SP: novo caso de direcionamento em compra de R$ 13,2 milhões em kits educacionais
– Bloqueio de bens em 2023 por suspeita de fraude em licitação
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