
Eweline Passos Rodrigues, 28 anos, conhecida como “Diaba Loira”, foi encontrada morta na noite desta quarta-feira (14), enrolada em um lençol e com marcas de tiros na cabeça e no tórax, na Rua Cametá, em Cascadura, Zona Norte do Rio.
Procurada pela polícia de Santa Catarina e do Rio de Janeiro, ela era considerada foragida, acumulando mandados de prisão por tráfico de drogas, associação criminosa e descumprimento de medidas judiciais. Sua trajetória no crime teve início após ser vítima de uma tentativa de feminicídio, em 2022, e terminou no meio da disputa sangrenta entre Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP).
Conhecida por ostentar, nas redes sociais, armamento pesado — como fuzis e pistolas —, Eweline teria mergulhado no mundo do crime após ser vítima de uma tentativa de feminicídio cometida pelo ex-marido.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/2/r/JDMKOvRUyFFtlosZNnsg/whatsapp-image-2025-08-15-at-07.22.21.jpeg)
Infância e o primeiro registro policial
Nascida em Tubarão, Santa Catarina, Eweline teve sua vida marcada por violência e conflitos. Em 2022, sofreu uma tentativa de feminicídio cometida pelo ex-marido, em Capivari de Baixo. Ela foi atacada com uma facada que perfurou seu pulmão, exigindo cirurgia de emergência. Segundo a Polícia Civil, o agressor a acusava de se apropriar de dinheiro enviado enquanto trabalhava fora do estado. Mesmo antes do ataque, havia suspeitas de envolvimento com traficantes locais, embora sem provas conclusivas à época.
Na ocasião, Eweline foi até a casa do ex-companheiro para buscar o filho pequeno e acabou atacada com uma facada, que perfurou seu pulmão e a levou a uma cirurgia de emergência.
“A primeira vez que me deparei com a Eweline foi quando ela foi vítima de uma tentativa de feminicídio. Ela levou uma facada do ex-companheiro. O sujeito alegava que ela havia se apossado de uma quantia em dinheiro dele”, contou o delegado André Luiz Bermudez Pereira, da 5ª DRP (Tubarão, cidade de Santa Catarina).
Segundo o delegado, o ex-marido de Eweline trabalhava em outro estado e teria descoberto que ela o traía e havia se apropriado do dinheiro que ele enviava para ser guardado. Na época da tentativa de feminicídio, Diaba Loira, segundo ele, já tinha vínculos com traficantes, embora não houvesse provas disso.
Do ataque à prisão
Após o crime, Eweline entrou no radar da polícia por tráfico de drogas. Em maio de 2023, foi presa em flagrante em Tubarão. Em janeiro de 2024, voltou a ser detida por porte ilegal de arma e tráfico, suspeita de preparar a execução de um rival. Liberada com tornozeleira eletrônica, rompeu o monitoramento duas vezes e se tornou foragida. Nesse período, deixou Santa Catarina e buscou abrigo no Rio.
“Nesse período, começamos a receber diversas fotos e vídeos dela portando fuzis nas favelas cariocas”, contou Pereira.
Fuga para o Rio e ascensão no Comando Vermelho
No Rio, Eweline se instalou em áreas dominadas pelo Comando Vermelho, como o Complexo do Alemão e a Gardênia Azul. Nas redes sociais, onde chegou a ter cerca de 70 mil seguidores, passou a postar imagens portando fuzis e pistolas. Foi nessa fase que adotou o apelido “Diaba Loira”, substituindo o antigo “Pitbull”. A exposição digital e a circulação armada nas comunidades aumentaram sua visibilidade.
Ruptura com o CV e entrada no TCP
Meses depois, Eweline rompeu com o Comando Vermelho e anunciou adesão ao Terceiro Comando Puro (TCP). Em vídeos, chamava antigos aliados de “despreparados” e afirmava não temer represálias. Em julho de 2025, acusou o CV de assassinar sua mãe. Com tatuagens nas costas exibindo símbolos do TCP, passou a se associar à “Tropa do Coelhão”, ligada ao traficante William Yvens Silva e subordinada a Wallace Brito Trindade, o Lacosta, líder no Complexo da Serrinha.
“É para eu ter medo? Eu estava do lado de vocês esse tempo todinho, sei que vocês são despreparados. Então antes de falar que a ‘equipe caos’ vai te pegar, parem de querer ameaçar, está chato já. Quem faz não fala”, disse Eweline Passos Rodrigues, em um dos vídeos no Instagram.
Em julho deste ano, ela publicou outro vídeo lamentando a morte da mãe, que teria sido assassinada por criminosos rivais ligados ao CV.
— VIDRAÇA TAMBÉM É GENTE, GENTE… (@VidrsGente) August 15, 2025
“Vocês pegaram a minha família, mataram a minha mãe. Vocês destruíram a única pessoa que eu tinha. Acabaram com ela, mesmo sabendo que ela morava sozinha e quase não falava comigo. Esses filhos da p*ta do Comando Vermelho sabiam”, desabafou.
A Diaba Loira também chamava atenção pela tatuagem nas costas. O desenho mostra uma mulher segurando um fuzil e fazendo o número três, em referência à facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP). Além disso, a arte inclui a imagem de um coelho e de um jacaré.
CV x TCP: a guerra que marcou seu destino
O Comando Vermelho, criado no fim dos anos 1970 na prisão da Ilha Grande, tornou-se a maior facção criminosa do estado. O Terceiro Comando Puro surgiu nos anos 2000, após uma cisão no Terceiro Comando, e mantém disputa acirrada com o CV pelo controle de comunidades e rotas do tráfico. Essa rivalidade é marcada por confrontos, execuções e expulsões de inimigos. Ao trocar de facção, “Diaba Loira” tornou-se alvo em uma das guerras mais violentas do Rio.
O fim anunciado
Contra Eweline havia três mandados de prisão em aberto, incluindo uma condenação definitiva com pena de cinco anos e dez meses em regime fechado. Ainda assim, repetia nas redes sociais: “Não me entrego viva, só saio no caixão”. Na noite de 14 de agosto, a frase se cumpriu. Seu corpo foi encontrado na Zona Norte do Rio, e a Delegacia de Homicídios da Capital investiga as circunstâncias da execução.