Categories: Mundo

Quem era o jovem fotógrafo que filmou a própria morte no Egito

Ahmed Samir Assem fez a imagem mais emblemática de um país mergulhando no caos.

height=350

Ele tinha 26 anos e era fotógrafo free lancer. Estava cobrindo os levantes no Egito após o golpe militar que tirou o presidente Mohamed Mursi do poder. Acabou produzindo a imagem mais impressionante e emblemática da situação caótica por que passa o país.

Ahmed Samir Assem filmou sua própria morte. Ele registrava a ação de um franco atirador no topo de um edifício. O soldado, de acordo com testemunhas, disparava contra a multidão (naquele dia, 51 pessoas pereceram).

O homem dá alguns tiros — e então aponta seu fuzil para Assem. A câmera para de operar nesse momento.

Seu equipamento ensanguentado foi encontrado num dos acampamentos improvisados no local. Assem estava nas manifestações desde a primeira hora. Gente que apoiava a Irmandade Muçulmana (grupo do qual Mursi fazia parte) se ajoelhava para rezar quando foi atingida. O exército afirma que estavam tentando invadir uma instalação militar.

Ahmed Abu Zeid, editor de cultura do jornal para o qual Assem estava trabalhando, conta que um homem apareceu dizendo que um de seus colegas havia sido ferido. “Cerca de uma hora mais tarde, eu tive notícias de que Assem fora alvejado na testa por um atirador enquanto filmava e tirava fotos na cobertura dos prédios. A câmera de Ahmed será utilizada como prova das violações que foram cometidas”.

Assem fazia pós-graduação do departamento de comunicação da Universidade do Cairo e era, segundo os amigos e familiares, um profissional dedicado. Reuniu um acervo de 10 mil fotos desde que começou na profissão, há três anos. Costumava trabalhar para o jornal Al-Horia Wa Al-Adala, órgão oficial do Partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana. Sua página no Facebook é repleta de fotos de manifestantes e posts contra os militares, ao lado de imagens de casamentos e de outros serviços que prestou. Agora há preces e convocações para seu funeral.

O assassinato de Assem será usado politicamente. A imagem de sua morte é o retrato mais eloquente de um conflito que está começando. “No final das contas, Ahmed estava fazendo apenas o que se esperava dele: trabalhando”, disse um amigo.

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Kiko Nogueira

Recent Posts

VÍDEO – Papa Francisco recebe Dilma Rousseff no Vaticano: “Prazer revê-la”

Neste sábado (27), o Papa Francisco recebeu a ex-presidente do Brasil e atual presidente do…

25 minutos ago

Aliados aconselham Bolsonaro pressionar Tarcísio e lançar Michelle à Presidência

Em reuniões realizadas nesta semana, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu conselhos de aliados para…

1 hora ago

X, de Elon Musk, admite ao STF que contas bloqueadas no Brasil burlaram restrições

A rede social X, de Elon Musk, admitiu na última sexta-feira (26) ao Supremo Tribunal…

2 horas ago

Socialite Regina Gonçalves nega casamento com motorista e denuncia roubo de joias

No retorno ao seu apartamento no Edifício Chopin, em Copacabana, a socialite Regina Gonçalves, de…

2 horas ago

Filho de Almirante Negro responde ofensas de comandante ao pai: “Herói do povo”

Adalberto Cândido, o único filho vivo de João Cândido Felisberto, conhecido como o "Almirante Negro",…

2 horas ago

As polêmicas da trajetória de Anderson Leonardo, do grupo Molejo

Anderson Leonardo, vocalista do Molejo, que morreu aos 51 anos na última sexta-feira (26) vítima…

3 horas ago