Quem ganha com a afronta ao presidente do Supremo? Por Moisés Mendes

Atualizado em 27 de maio de 2022 às 10:27
QUEM GANHA COM A AFRONTA AO PRESIDENTE DO SUPREMO?
Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)
Foto: Pedro Ladeira

Por Moisés Mendes

Não surpreende a política dita convencional, mesmo a bem distanciada da política do submundo, que um sujeito como Daniel Silveira afronte o Supremo e ameace seus ministros em nome da fidelidade a Bolsonaro e aos militares.

Sempre existiram figuras sem escrúpulos, que agem como prepostos, assumindo ações de alto risco para que mantenham ou ampliem suas posições nesse nicho.

Silveira ficou mais forte na sua base e entre lideranças de extrema direita ao ir para o tudo ou nada, como kamikaze do bolsonarismo, para que assim Bolsonaro pudesse testar as reações do STF e da sociedade.

Silveira anda por aí, sem rumo, mas espera ter a proteção da turma para sobreviver politicamente, depois que o procurador Augusto Aras validou o indulto de Bolsonaro ao deputado condenado pelo Supremo.

Mas é improvável que consiga se candidatar de novo a um cargo eletivo. O que o consola é que fez o serviço ao atacar o STF e se habilitou a ser alguma coisa na estrutura do bolsonarismo, mesmo que ninguém saiba o que irá sobrar dessa engrenagem depois da eleição.

Mas se um Silveira é até assimilado como um emissário dos fascistas, como compreender que grandes empresários, todos conhecidos na sua região, possam afrontar o presidente do STF, como fizeram alguns bolsonarista de Bento Gonçalves?

Alguém imagina o líder de uma grande marca nacional mandando recados ao presidente do Supremo, para que ele não apareça na cidade porque será mal recebido?

É possível imaginar Bradesco ou Itaú afrontando abertamente o presidente do Supremo? Ou mesmo um ministro do Supremo, sem cargo de comando?

Alguém imagina que qualquer organização ou entidade do sistema financeiro, com todos os riscos envolvidos até mesmo numa frase mal interpretada, possa desqualificar por antecipação uma palestra de alguém com a autoridade do presidente da mais alta Corte do país?

Pois a direção dofoi em frente. Uma cooperativa de crédito que funciona como um banco aberto a todos que a ele se associarem decidiu que deveria liderar uma debandada.

E liderou o recado de empresas e de organizações ligadas ao Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC), para que a entidade ficasse sabendo que Fux não seria bem-vindo para a palestra de 3 de junho em Bento.

Em uma carta aos associados, o Sicredi diz ter desistido de apoiar a palestra “considerando os impactos da nossa marca”.

Deixou nas entrelinhas que o Sicredi não deseja associar sua imagem a um ministro que, segundo a extrema direita, é amigo das esquerdas.

Empresários têm posições políticas, assim como qualquer outro brasileiro, em qualquer atividade, mas é surpreendente que tal posição seja manifestada em relação ao presidente do STF, e com a adoção de uma atitude de confronto.

O que o Sicredi e empresários bolsonaristas mandaram dizer a Fux foi isso: não apareça, porque aqui as posições políticas se sobrepõem às boas maneiras.

Os empresários rejeitaram a visita do ministro, a convite da entidade deles (e não porque ele tenha se oferecido para a palestra), como se estivessem rejeitando um inimigo político qualquer.

Esse nós não quereremos. Foi o que disseram os que se rebelaram contra a palestra, fazendo com que, por falta de segurança, Fux se sentisse ameaçado pelas reações e desistisse da visita, mesmo que em outro local assegurado pela OAB, em substituição à sede da CIC.

Se a moda pega, teremos mais episódios semelhantes. Polícia Federal, Ministério Público e outras instituições da República precisam dizer o que aconteceu em Bento. Por que a segurança ao chefe do STF não foi assegurada?

E os empresários discordantes, que ainda respeitam pelo menos normas de conduta, poderiam se manifestar, para que o grupo que boicotou o evento e desprezou Fux não fique falando sozinho.

(Texto originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes)

Clique aqui para se inscrever no curso do DCM em parceria com o Instituto Cultiva

Participe de nosso grupo no WhatsApp clicando neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link