Engraçada a Folha.
No assunto sério em que deveria investigar a Globo – o caso da sonegação – fica muda, acoelhada.
Num assunto irrelevante que não vai mudar a vida de ninguém – a substituição de Patrícia Poeta no Jornal Nacional – produz textos em copiosas quantidades, tanto no jornal como no UOL.
A última especulação apareceu hoje no UOL, pelo colunista de tevê Daniel Castro. Segundo ele, João Roberto Marinho teria mandado tirar Patrícia Poeta pelo desempenho nas entrevistas com Dilma e Marina.
Com Dilma, o pecado teria sido falar pouco, pelo menos diante da loquacidade febril de Bonner. Ora, não foram combinadas as perguntas entre Bonner, PP e seus chefes? Ou alguém acha que houve improviso?
Se fosse este o motivo, Chico Pinheiro deveria estar tremendo agora. Na entrevista de Dilma para o Bom Dia Brasil ele foi um figurante masculino num duelo particular entre Dilma e Míriam Leitão. Se PP foi apagada, que dizer de Chico, a quem ninguém deu a palavra apesar dos pedidos constantes durante a entrevista?
(Míriam Leitão, em certo momento, parecia convencida de que os telespectadores estavam mais interessados nela do que em Dilma.)
Todos os entrevistadores da Globo se sentirão ameaçados daqui por diante, se o que vitimou PP foi ter falado pouco na sabatina presidencial. “Será que eu fiz perguntas o suficiente?”, se perguntarão.
Tenho para mim que quem acredita na versão que apareceu no UOL acredita em tudo. É virtualmente impossível que PP tenha sido tirada pelas entrevistas com Dilma e Marina.
Mesmo que João Roberto Marinho tenha dito isso, não faz sentido. O mesmo João Roberto me disse, quando Juan Ocerin foi demitido da Editora Globo, que a razão fora a nacionalidade de Juan. Juan era espanhol. Ora. Ele era espanhol desde que nascera, e então ele seria demitido por isso?
Patrões falam qualquer coisa para se livrar de um assunto incômodo como demissão.
Outra especulação da Folha, esta de Ricardo Feltrin, aponta para a queda do Ibope desde que PP assumiu, há três anos. Não faz o menor sentido. Se a queda do Ibope fosse um fator para mandar gente embora do Jornal Nacional, a redação estaria vazia.
Bonner teria sido despedido. Ali Kamel também. E os próprios irmãos Marinhos teriam pensar a respeito de sua competência.
No início da década de 90, quando Roberto Marinho já não tinha condições de tocar o negócio e os herdeiros assumiam papel maior, a audiência do JN estava na casa de 50%. Hoje, luta para se manter em 20%.
Mas o problema aí está vinculado à progressiva transformação da tevê aberta numa mídia de segunda linha, sob o impacto da internet. Patrícia Poeta pode ser culpada de muitas coisas, mas não da perda de audiência do JN.
É fatal que dentro de um ano o Ibope do JN seja ainda menor do que o atual, e a substituta de Patrícia Poeta não terá culpa nenhuma nisso. Os espectadores estão na internet: este o ponto.
A única coisa efetivamente complicada, do que se falou de PP, é o apartamento de 12 milhões de dólares que ela estaria comprando. Não é uma cifra para jornalistas como Patrícia e seu marido, Amauri Soares. Definitivamente, não é.
No Reino Unido, a casa de Thatcher em Belgravia, o bairro mais chique de Londres, foi notícia quando ela morreu. Chamou a atenção da mídia o fato de Thatcher ter uma casa avaliada à época em 8 milhões de libras, mais ou menos o preço do apartamento de PP.
E Thatcher, terminado o seu mandato, ainda teve tempo para ser uma das palestrantes mais caras e requisitadas do mundo. Fora isso, vendeu os direitos de sua autobiografia por alguns milhões de dólares. A não ser por coisas como herança ou sorte na loteria, jornalistas não costumam ter meios para comprar apartamentos de 12 milhões de dólares.
Quem passou essa informação para o jornalista Lauro Jardim, da Veja, fez isso com o deliberado intuito de queimar Patrícia Poeta. Poucos dias depois de publicada a notícia, foi anunciada a saída de Patrícia Poeta.
Num esforço para abafar especulações, Bonner chegou a postar no Twitter uma foto em que aparecia entre PP e a sua substituta, Renata Vasconcellos. Os três riam. O detalhe é que era uma foto velha.
O único mistério deste caso, se existe algum, é o papel do apartamento na história.
A pergunta essencial é: de onde vem o dinheiro, caso seja real o negócio? Entendo que, pelo bem de sua reputação, ela própria deveria esclarecer isso.
Esperar que a Folha investigue alguma coisa aí é o chamado triunfo da esperança sobre a experiência.
(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).