Quem não toma a segunda dose ajuda o vírus a aprender a escapar das vacinas, diz Átila Iamarino

Atualizado em 17 de junho de 2021 às 22:09
Átila Iamarino. Foto: Reprodução/YouTube

 

Átila Iamarino, doutor em microbiologia e divulgador científico, fez uma thread em sua conta de Twitter nessa quinta-feira (17) explicando sobre a importância das pessoas tomarem as duas doses da vacina. Leia:

Qual o problema de as pessoas não tomarem a segunda dose da vacina da COVID? Elas vão ter a falsa sensação de proteção e podem se expôr mais. E isso ajuda a selecionar vírus mais resistentes. Segue um fio explicando como.

Um bom alvo para o sistema imune é a proteína S do coronavírus, o espinho que fica do lado de fora do vírus e que reconhece e se liga nas nossas células. É por causa dessa importância que ela é o principal ingrediente na maioria das vacinas, como AZ, Pfizer, Janssen, Sputink V…

Como ela é a “chave” pro vírus entrar, se nossos anticorpos cobrem essa chave, o vírus perde a capacidade de invadir as células. Ele é neutralizado. Daí os anticorpos neutralizantes que as vacinas também despertam.

Se o vírus muda a proteína S, ele pode escapar dos nossos anticorpos. Mas ao mesmo tempo, ele está mudando uma parte essencial que usa pra entrar nas células e pode perder a afinidade por elas, ficar mais incompetente pra se reproduzir.

Por isso vemos variantes com várias mutações na proteína S de uma vez. O vírus precisa acumular várias mudanças até “corrigir” a proteína S e chegar em uma chave que ainda funciona bem.

Algumas vezes, a combinação das mudanças é melhor do que o original. Daí as variantes que conseguem ser mais transmissíveis do que o Sars-CoV-2 original. No caso das variantes até aqui., o que parecer gerar essas mudanças pode ser só a melhora da transmissão.

Para escapar das vacinas, o vírus teria que passar pelo mesmo tipo de processo. Mudar o suficiente para escapar da imunidade e provavelmente mais um tanto até ser tão capaz de nos infectar e se espalhar quanto era antes (ou melhor). É aqui que entra a imunidade parcial.

Com 1 dose só de vacinas de 2 doses, o corpo começa a produzir a resposta imune, mas não o suficiente pra maioria das pessoas neutralizarem o vírus. Isso cria o ambiente certo pro vírus intermediário, que não escapa tanto da imunidade mas ainda se reproduz bem, continuar mudando.

Se a imunidade fosse completa, com as 2 doses, o vírus seria neutralizado e não conseguiria se reproduzir na maioria dos vacinados. Com uma só dose, tem muita gente circulando que ainda pode pegar o vírus, mas já vai ajudar ele a treinar a fuga do sistema imune.

Então se vacine e não esqueça da segunda dose. Só com a primeira, a pessoa não só continua em risco como coloca todo mundo em risco, mesmo quem se vacinou completamente, ao ajudar o vírus a aprender a escapar das vacinas.

Quem vê pensa que eu tirei um doutorado em evolução viral.

Mas entendo, todo dia tanto ignorante receitando cloroquina que parece que todo mundo se acha médico – e médico errado. Sinto pela fama errada que vocês médicos estão ganhando.