Quem nos salvará de nossos ‘salvadores’? Por Nathalí Macedo

Atualizado em 18 de abril de 2016 às 11:35
Charge de Latuff
Charge de Latuff

Assistir à votação do Impeachment foi uma tortura. Também pelo golpe em curso no Brasil, é claro, mas, para além disso, é triste ver que os nossos representantes no Congresso Nacional – ou a maioria deles – não são só golpistas: eles são completos ignorantes políticos. Não conseguem sequer disfarçar a própria sordidez com meia dúzia de palavras bonitas, como fizeram outrora: dedicam o próprio golpismo aos seus familiares e dão as costas com suas caras de vitoriosos. Os “representantes do povo” escancararam as suas intenções.

Nós já as conhecíamos, é verdade, mas ver a sordidez, o golpismo e a misoginia sendo televisionados e comemorados por muitos beira o desesperador.

Foi desesperador, vergonhoso e triste ver todas aquelas caras masculinas, brancas, calvas e de meia idade defendendo os próprios interesses com discursos vazios e enaltecidos por uma direita ainda mais ignorante e ainda mais vazia.

Homens brancos, heterossexuais, misóginos, sexistas, golpistas e elitistas estão falando por nós.

E quando estes homens julgam uma mulher íntegra baseados na família, em deus e na moral que não têm, levantando plaquinhas com os dizeres “tchau, querida” – nada do que já não tenhamos visto – a democracia agoniza. A igualdade pede as contas.

Chegamos a um ponto em que deputados dedicam seus votos pró-golpe às suas esposas, seus fihos que acabaram de trocar os dentes, suas avós, seus netos. Só faltaram mandar um beijo para o papai, a mãe e a Xuxa.

Não mencionam a democracia, a Constituição ou o Povo: a eles só interessam os seus, como sempre foi, mas agora, mais do que nunca, eles não fazem questão de disfarçar. Nós e a democracia somos tratados feito idiotas em rede nacional e isso é ridiculamente naturalizado.

A misoginia está estampada em placas verdes e amarelas dentro do Congresso Nacional e no sorriso cínico de Eduardo Cunha, o réu que conduz a comissão de impeachment: seria cômico se não fosse trágico.

Um deputado gay é hostilizado e humilhado publicamente – nota: a cusparada de Jean Willys me representa -, Bolsonaro menciona um torturador da ditadura como herói e é aplaudido pelos outros fascistas. A impressão – desesperadora, porque não há outro adjetivo – é que esse circo está fora de controle.

O que eu, particularmente, não sabia e temia perceber é que aqueles que ocupam as cadeiras do Congresso Nacional já não têm a menor vergonha de expor suas motivações sórdidas, não disfarçam a misoginia, a atuação política dedicada e motivada por seus próprios interesses, a ignorância maquiada por berros de “voto sim pelo fim da corrupção” – e metade do povo brasileiro continua fechando os olhos diante do óbvio.

Se são estes que vão salvar o Brasil, quem nos salvará deles? Quem nos salvará do machismo institucionalizado, do conservadorismo assassino, da homofobia caricata no Congresso Nacional?

No país dos homens, dos ricos e dos brancos, a democracia agoniza. Tchau, querida. Descanse em paz.