
Lula poderá falar para Janja ou alguém de confiança do impacto que sentiu ao ficar diante de Trump e apertar sua mão inchada. E poderá depois trocar impressões com Putin e Zelensky.
Trump iria acabar com a guerra em encontros com os dois. Parte da esquerda brasileira aliou-se aos mais eufóricos ‘pacifistas’ certos de que um tapete vermelho para Putin seria algo com um grande significado. Trump não iria chamar Putin ao Alaska e estender um tapete vermelho impunemente.
Aconteceu o que todos sabemos. Mesmo que a anunciada conversa com Lula resulte em concessões pontuais, o que importa é que o eixo da relação entre ele e Trump não será alterado.
Trump não fará concessões relevantes a Lula e ao Brasil, porque isso não teria o menor sentido. Trump não pode deixar de ser Trump e Lula não criar um personagem diante do líder do fascismo mundial.
Trump deixaria de ser Trump se corresse o risco de fortalecer Lula internamente e como protagonista do Brics. Ele nunca irá sugerir aos americanos que não se incomoda com a aproximação de Brasil e China.
Trump não aceitaria nada que pudesse representar, não o enfraquecimento de Bolsonaro, que já está morto politicamente, mas da extrema direita que dará sequência ao bolsonarismo sem seu fundador.
PERDERAM NOVAMENTE:
Os bolsonaristas apostaram que Trump atacaria o Brasil e o Lula, na Assembleia Geral da ONU
Entretanto, em seu discurso, Trump disse que abraçou Lula e que ele parece um cara muito legal.
RESPEITEM O BRASIL !
BRASIL SOBERANO 🇧🇷
Nações Unidas pic.twitter.com/n08uG9dXxe— Esquerda Libre 🚩 (@EsquerdaLibre) September 23, 2025
Se esse encontro anunciado for apenas uma reunião fracassada, será ruim para Lula mas não será o pior. O desastre acontecerá se, mesmo com toda a precaução de Lula para a armadilha, Trump estiver puxando o brasileiro para uma das suas arapucas.
Se não acontecerem avanços, como não aconteceram depois dos encontros com Putin e Zelensky, se Lula sair derrotado da conversa e se Trump continuar fazendo o jogo do fascismo, ninguém deve se surpreender.
Mas é preciso considerar a hipótese de que, mesmo sem humilhar publicamente Lula, porque esse seria um gesto perigoso, Trump pode usar seu inimigo para mandar o recado de que continua orientando os movimentos de tudo e de todos, na Europa, na Ucrânia, em Israel, na Rússia e no Brasil.
Ao dizer que estava encantado com Lula, Trump mandou a mensagem do mafioso. Ele é quem determina quando e onde conversar, porque está acima de Lula, da ONU e de todo o resto.
A conversa é a concessão de Trump para oferecer espelhinhos a Lula, que não pode nem deve esperar mais. Trump poderá até dizer que entregará os 10 primeiros espelhos e que tem mais 50 numa grande caixa à espera da paz com o Brasil.
Poderá fazer uma lista de produtos que terão redução de tarifas. Economistas que analisarem a lista chegarão à conclusão de que há de fato recuos importantes. Teremos manchetes: Trump revê tarifaço.
Mas o assediador do Brasil, que sabota a economia, ataca o Judiciário e procura jogar Lula num conflito dos Estados Unidos com a Venezuela, não mudará nem depois de três horas de conversa com Lula.
A essência das relações de Trump com Lula e com o Brasil não será alterada, porque não há como desfazer o conjunto de coisas que o incomodam.
Trump não quer salvar Bolsonaro, mas usá-lo para que a extrema direita, sem ele, retorne ao poder. Quer a intensificação da guerra ou dos blefes com o Brics e a China e quer ver Lula encerrando sua vida política no ano que vem.
Imaginemos que, depois do encontro com Lula, Trump cumpra com o roteiro do gesto magnânimo dos gângsteres e anuncie que vai ceder nas tarifas e até na revogação das sanções contra Alexandre de Moraes.
A extrema direita ficará incomodada e parte da esquerda vai comemorar, porque Eduardo e os que ainda o seguem se sentirão traídos. Mas é só isso. Não há diferença entre uma dúzia ou uma centena de espelhinhos.