Quem são e como se divertem os manifestantes que escracham golpistas como Cristovam Buarque. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 19 de julho de 2017 às 18:11

 

 

 

Moro já é um escrachado: o coletivo só pegou a deixa.

Ao ser escrachado em Belo Horizonte, sendo chamado de “golpista e traidor”, Cristovam Buarque respondeu, como mostram os vídeos, apontando os dedos indicadores para os manifestantes, marcando as sílabas:

— Cor-rup-tos, cor-rup-tos, cor-rup-tos.

Engraçado Cristovam Buarque.

Ele foi acusado pelo coordenador de sua campanha em 2006 de ter recebido dinheiro de caixa 2 dos tucanos, e corruptos são aqueles que cobram coerência do ex-petista.

O que Cristovam não sabe é que o escracho de ontem poderia ter sido bem pior.

Horas antes das manifestações, alguns dos organizadores demoveram outros da ideia de receber o senador com uma chuva de ovos, como aconteceu em Curitiba, no casamento da deputada Maria Victoria.

Não foi para poupar Cristovam, mas para que a manifestação não fosse interpretada como um ato antidemocrático, já que o senador iria participar de um ato de seu mais partido mais recente, o PPS – Cristovam já foi filiado ao PT e ao PDT.

Situação diferente do casamento de Maria Victoria, festejado num palácio, com muita ostentação.

Parte dos manifestantes de Belo Horizonte é do coletivo Alvorada, que faz do humor sua maior arma de manifestação.

O grupo foi criado em 2015, quando se tornou claro que era de caráter golpista o movimento que inviabilizou o governo de Dilma Rousseff.

O grupo já fez mais de 10 quilômetros de faixa e distribuiu 1,1 milhão de adesivos.

No escracho organizado para receber a presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmen Lúcia, a faixa informava: “O papelão do STF na destruição de uma democracia. Por KKKKKKKarmen Lúcia”, em referência ao tema da palestra que ela iria realizar: “O papel do STF na construção da democracia”.

Carmen faltou ao evento e escapou do escracho.

O coletivo Alvorada também criou o pano de chão “Fora, Temer Golpista” e outro, muito popular no Rio de Janeiro, “Procura-se o inocente do Leblon”, em homenagem a Aécio Neves.

Pano de chão: para alguma coisa, eles servem.

O pano de chão é vendido, assim como bottons e camisetas, para sustentar a produção de material de escracho.

Ainda assim, a receita não é suficiente para cobrir os custos, o que leva os membros do coletivo a realizarem, com frequência, vaquinhas por grupos de whatsapp.

Em 2016, eles burlaram a vigilância das Olimpíadas, que proíbem manifestação política nas arquibancadas, e conseguiram expor na arquibancada a frase “FORA TEMER”, com o logo da Globo no lugar do O.

É que cada um entrou vestindo uma camiseta com uma letra impressa. No estádio, sentaram-se um ao lado do outro e a frase foi formada, e fotos publicadas em jornais do mundo inteiro.

A certa altura, eles se levantaram e exibiram cartolinas com letras que formavam a frase “Come Back Democracy”. Sucesso total.

Nem a rigorosa fiscalização da Olimpíada conseguiu barrar o Alvorada: criatividade como arma.

Um dos organizadores do Alvorada, o ator, diretor e professor de teatro Munish, diz que o humor é a forma mais eficiente de propaganda política nos dias de hoje.

“No passado, panfletávamos e distribuíamos jornais na porta de fábrica e nas praças. Hoje, o escracho cumpre esse papel”, afirma.

No protesto contra Carmen Lúcia, ele se vestiu como a deusa Têmis, símbolo da justiça. Na intervenção, ele carregava uma balança que pendia para um lado, onde havia um tucano cheirando pó.

Na recepção a Cristovam Buarque, Munish colocou um terno, fez uma máscara com o rosto do senador e se maquiou de palhaço Bozo.

Nos vídeos que mostram Cristovam e, inclusive, no vídeo que ele gravou em resposta aos manifestantes, vê-se um homem que disfarça sua tensão com sorriso forçado.

Como se tudo estivesse bem. Não estava.

A marca traidor e golpista foi impressa em seu rosto. Eternamente.

Para que isso acontecesse, o coletivo usou do humor e também da tecnologia a seu alcance.

No prédio em frente ao evento onde Cristovam daria a palestra, foram projetadas, em letras gigantes, as palavras “Cristovam Buarque: golpista, cínico e picareta.”

Funcionários do PPS arrancaram as faixas que continham a mesma frase, mas não puderam fazer nada com as palavras projetadas no prédio.

O projetor estava num apartamento em frente, colocado lá com a permissão de uma família simpatizante à causa do coletivo Alvorada.

É um tipo de guerrilha, sem violência.

“Com o golpe, nos tiraram muita coisa, mas não a nossa disposição para a luta, para mostrar quem eles são, na verdade. São golpistas, antidemocratas, saqueadores do povo. Com humor e protestos pacíficos, todos entendem”, diz Munish.

O recado deles é:

Cuidado, golpistas, o Alvorada está por aí e sua hora vai chegar.

A de Cristovam chegou, e ele já era.

Cristovam apontando os dedinhos: ele recebe de caixa 2, mas diz que corruptos são os manifestantes.