O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, anunciou nesta quarta-feira (13) a revogação de vistos de autoridades brasileiras, medida que amplia a lista de alvos de sanções impostas pela gestão do presidente Donald Trump. A decisão foi comunicada no X, associando a medida à participação de médicos cubanos no programa Mais Médicos.
Rubio classificou o projeto como um “golpe diplomático inconcebível” e parte de um “esquema de exportação de trabalho forçado” pelo “regime cubano”, envolvendo também ex-integrantes da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Segundo o Departamento de Estado, as sanções atingem autoridades que teriam sido responsáveis ou cúmplices na execução de um modelo que, na avaliação de Washington, explorava médicos cubanos e desviava recursos de salários para o governo de Havana. Os médicos recebiam remuneração no Brasil, mas, para os EUA, a retenção de parte dos valores por Havana caracterizava trabalho forçado.
Entre os alvos confirmados estão Mozart Júlio Tabosa Sales, atual secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, e Alberto Kleiman, ex-assessor de Relações Internacionais da pasta. Mozart é a primeira autoridade do governo Lula a ser punida com a perda de visto pelo governo Trump.
Integrantes do governo temem que a medida possa atingir outros, inclusive de alto escalão, por causa do embate político relacionado aos processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Até então, apenas ministros do Supremo Tribunal Federal e o procurador-geral da República, bem como familiares, haviam perdido vistos.
.@StateDept is also taking steps to revoke visas and impose visa restrictions on several Brazilian government officials and former PAHO officials complicit in the Cuban regime’s forced labor export scheme. Mais Médicos was an unconscionable diplomatic scam of foreign ‘medical… https://t.co/O1AiY948MK
— Secretary Marco Rubio (@SecRubio) August 13, 2025
Quem é Mozart
Mozart Júlio Tabosa Sales formou-se em Medicina pela Universidade de Pernambuco em 1995, especializando-se em Clínica Médica e Medicina Legal, e conquistou doutorado em Saúde Integral. É médico concursado do Hospital Universitário Oswaldo Cruz e legista no Instituto de Medicina Legal de Pernambuco.
Atuou como docente em Deontologia e Medicina Legal, presidiu associações de médicos residentes e exerceu cargos políticos, como vereador do Recife e presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal. No governo federal, ocupou funções de chefia e assessoramento na Secretaria de Relações Institucionais e no Ministério da Saúde, onde desempenhou papéis estratégicos em programas e políticas públicas.
Quem é Alberto Kleiman
Alberto Kleiman possui graduação em Direito e mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo. No Ministério da Saúde, chefiou o Departamento de Relações Internacionais entre 2012 e 2015. Depois, atuou na Opas como diretor de Relações Externas, Parcerias e Mobilização de Recursos, cargo que exerceu em Washington até 2022.
Atualmente é coordenador para a COP-30 na Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Antes, trabalhou na Presidência da República durante governos do PT e no Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) no Uruguai, além de atuar na articulação de projetos multilaterais na área da saúde e desenvolvimento.
Programa Mais Médicos
O Mais Médicos foi criado pelo governo de Dilma Rousseff, em 2013, para suprir a carência de profissionais em áreas remotas do Brasil. Pelo acordo firmado, cerca de 8 mil médicos cubanos trabalharam no país até 2018. Washington alega que até 85% dos salários pagos pelo Brasil eram retidos por Havana e que a Opas serviu como intermediária para transferir esses valores, contornando sanções americanas.
Desde 2019, os EUA classificam as missões médicas de Cuba como trabalho forçado. Com o retorno de Lula à Presidência, o programa foi relançado em 2023, ampliando o número de profissionais para 26.700 e estendendo a cobertura a regiões como a Amazônia Legal.
Em julho, Trump já havia determinado a suspensão dos vistos de Alexandre de Moraes e outros sete ministros do Supremo Tribunal Federal. Agora, a medida alcança novos integrantes do governo brasileiro e autoridades estrangeiras, reforçando o uso das sanções como instrumento de pressão diplomática.