Quem são os “disciplinas”, membros do PCC na “compra de silêncio” de moradores em bairros

Atualizado em 29 de setembro de 2024 às 16:04
Investigação da Polícia Civil sobre tribunais do crime em Jundiaí identificou em que termos acontece troca de favores em algumas comunidades. Foto: Marco Gomes

A Polícia Civil de Jundiaí, no interior de São Paulo, desvendou um esquema de “política de boa vizinhança” imposto pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) nas comunidades periféricas, especialmente em áreas dominadas pelo tráfico de drogas.

Investigações no Morro São Camilo revelaram que a facção mantém um controle rigoroso sobre os moradores e suas ações, oferecendo segurança e favores em troca de silêncio sobre as atividades criminosas. Esse sistema permite ao PCC operar com tranquilidade, assegurando que sua “lei” prevaleça sem interferências externas.

Parte dos moradores dessas áreas, em troca de vantagens financeiras ou outros benefícios, acaba “vendendo” seu silêncio e, em alguns casos, até solicitando que o PCC interfira em disputas pessoais ou punições a desafetos.

As investigações indicam que essa “justiça paralela” é rápida e severa, muitas vezes resultando em penas extremas, como a morte, sem qualquer burocracia ou possibilidade de recurso. Os chamados “tribunais do crime”, realizados em segredo, são utilizados para julgar e sentenciar infratores ou inimigos da facção.

Criminosos teriam matado o irmão de um membro do grupo e foram sentenciados à morte no “tribunal do crime”. Foto: Polícia Civil

A criação dos “disciplinas”, membros encarregados de monitorar e aplicar as regras do PCC, teve início como uma forma de controle das finanças da facção, mas logo evoluiu para abranger todas as questões internas, inclusive julgamentos.

Esses “disciplinas” atuam como uma espécie de corregedores, ouvindo as queixas da comunidade, recolhendo provas e decidindo o destino dos acusados. Cada comunidade controlada pelo PCC conta com seu próprio “disciplina”, que exerce o poder de julgamento com base nos preceitos da organização.

Nos julgamentos, os réus são intimados e obrigados a comparecer ao tribunal da facção, onde têm a chance de se defender. No entanto, há relatos de que muitos são torturados até confessarem crimes que não cometeram. Testemunhas, muitas vezes coagidas ou intimidadas, podem ser influenciadas a mentir, resultando em sentenças de morte injustas, tanto para inimigos quanto para membros do próprio PCC.

Um exemplo trágico desse sistema é o caso de quatro membros do PCC em Jundiaí que foram julgados e mortos por ordem do tribunal do crime. Três deles, William Adão, Gabriel Pereira dos Santos e José André de Souza Santos, foram enterrados vivos em uma cova rasa no bairro Engordadouro.