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Quem são os especialistas suspeitos que a velha imprensa usa para demonizar Favreto. Por Joaquim de Carvalho

Maristela Basso: sócia do escritório que patrocinou ações pró-impeachment

A Folha de S. Paulo publica hoje opinião da advogada Maristela Basso sobre a decisão do desembargador Rogério Favreto de conceder habeas corpus a Lula. Diz a advogada que o desembargador pode ser acusado de usurpação da função pública.

Maristela é apresentada como professora da USP. Só que, no caso, a qualificação mais apropriada seria a de sócia do escritório de advocacia Nélson Wilians, que patrocinou recentemente um evento em Nova York que teve palestra de Sergio Moro.

Wilians é também advogado da Petrobras, o que, em princípio, colocou Moro em situação de conflito de interesse em razão da palestra, já que a Petrobras, como assistente de acusação, é parte nos processos conduzidos pelo titular da 13a. Vara Federal Criminal de Curitiba.

A opinião de Maristela carece, portanto, de isenção.

Melhor seria se ela explicasse como Nelson Wilians se tornou a maior banca de advocacia do Brasil e, depois que Michel Temer assumiu, beneficiado pelo impeachment, conseguiu contratos expressivos no governo federal, como as ações da GEAP (autogestão em saúde dos servidores públicos federais).

Wilians é também ligado ao tucano João Doria, como advogado e como dono de jatinhos que o ex-prefeito de São Paulo usou para deslocamentos pelo Brasil, em eventos de pré-campanha a presidente (por enquanto, sem conseguir viabilizar a candidatura a presidente no lugar de Geraldo Alckmin, ele é pré-candidato a governador do Estado de São Paulo).

Da pequena Cianorte, na região de Maringá, Nelson Wilians também é um entusiasta de Moro, a quem homenageou com manifestações na rede social,  e seu escritório contou com a presença dele e da mulher, Rosângela, na festa em que se comemorou o título de cidadã honorária do Paraná concedido pela Assembleia Legislativa a Sandra Marchini Comodaro, sócia do escritório em Curitiba.

Nelson Wilians também esteve na linha de frente do movimento que levou à deposição de Dilma — advogados do seu escritório prepararam um dos pedidos de impeachment entregues a Eduardo Cunha, o do ator Alexandre Frota.

Frota também foi levado em avião de Nelson Williams para participar das manifestações pelo impeachment realizadas no dia da votação da Câmara, em maio de 2016.

Ao mesmo tempo em que Wilians patrocinava ações pró-impeachment, Moro, com o espetáculo da Lava Jato, criava o ambiente tóxico propício a manifestações de rua e à queda de popularidade de Dilma.

Para Wilians, a troca de presidente foi um bom negócio. Com Michel Temer, seu escritório conseguiu mais contratos no governo federal e em áreas de influência no governo federal.

Depois do impeachment, além do contrato com a GEAP, o escritório foi escolhido sem licitação para arbitrar uma disputa no porto de Santos, antiga área sob influência de Temer, com honorários estimados em R$ 23 milhões.

Se o impeachment foi bom para o escritório, a prisão de Lula talvez também seja. Para quem ajudou a derrubar Dilma, faz sentido, dois anos depois, Lula ou alguém indicado por ele voltar ao poder?

Como profissional do direito, a opinião de Marilena Basso sobre a decisão do desembargador Favreto vale, portanto, tanto quanto a de Carlos Cachoeira sobre as máquinas de caça-níqueis. Nas suas respectivas áreas, têm interesses.

A entrevista de Maristela à Folha ajuda a entender como funciona a máquina de formar opinião no Brasil. Outros especialistas, com interesses na disputa política, também estão sendo ouvidos para enaltecer Moro e demonizar Favreto.

É um truque manjado para quem conhece a área de comunicação, mas o grande público não percebe. Compra gato por lebre, ou, em outras palavras, sócia de escritório que faz parte condomínio golpista por professora da USP.

Roberto Marinho com Joaquim Falcão: opinião de jurista com selo da Globo

Na mesma reportagem, a Folha entrevista Joaquim Falcão, advogado que foi secretário-geral na Fundação Roberto Marinho e, a exemplo do ministro Luís Roberto Barroso, sempre esteve sob o guarda-chuva da Globo.

Disse Falcão:

“A questão não é o ativismo do Judiciário, mas a militância do magistrado. E a militância é um subproduto da fragmentação e da individualização da Justiça, cujo exemplo básico vem de cima, do Supremo Tribunal Federal”.

Falcão foi escolhido recentemente para a Academia Brasileira de Letras, com grande publicidade da Globo, e com seu prestígio Falcão tem defendido em artigos publicados no principal jornal da família Marinho teses que ajudam a manter Lula fora de circulação.

Tanto Maristela Basso quanto Falcão têm currículo para emitir opiniões na área jurídica, e não há nenhum problema em ouvi-los. Seria mais honesto, entretanto, se os jornais informassem a seu distinto público quem de fato são suas fontes e a que interesses servem.

Joaquim de Carvalho

Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com

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Joaquim de Carvalho

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