Quem se beneficia de todas as pesquisas do tipo “e se a eleição fosse hoje?” Por Kiko Nogueira

Atualizado em 28 de agosto de 2015 às 13:25

urna

 

Um estranho fenômeno ocorre desde janeiro de 2015: o ano eleitoral brasileiro passou a ter mais de 1500 dias.

A quantidade de pesquisas com o título “se a eleição fosse hoje, em quem você votaria” ultrapassou qualquer limite do absurdo. Há pelo menos uma por mês. O Google completa sozinho a frase, como você pode ver abaixo.

Cui bono? Quem ganha com isso?

Em 2014, alguns institutos — nominalmente, Paraná, Sensus e Veritá — foram responsáveis por presepadas homéricas. Todas ficaram impunes. Continuam trabalhando normalmente, sob encomenda de não se sabe de quem.

Na sexta, 28, o Paraná saiu com um levantamento, veiculado celeremente no blog do jornalista e ficcionista Ricardo Noblat.

Teriam sido ouvidos 2 060 pessoas de 154 municípios de todos os estados, mais o Distrito Federal. Aécio venceria Lula com quase o dobro dos “votos” – 54,7% a 28,3%. Uau.

Em março, o mesmo Paraná já havia feito a mesma pergunta. Deu Aécio com 51,5% contra Lula, com 27,2%. Uau, uau, uau.

Em fevereiro, a questão era se aqueles que votaram em Dilma estavam arrependidos: 21,7% não repetiriam a escolha. Com relação a Aécio, só 3,8% voltariam atrás. O placar, então, seria de 51 milhões para Aécio contra 49,1 para a petista.

 

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No ano passado, a cinco dias do pleito, o Veritá apareceu com uma pesquisa em que Aécio aparecia com 53,2% contra 46,8% de sua adversária. De acordo com a Folha, em matéria na semana seguinte, houve utilização de dados falsos.

O diretor do instituto Paraná, Murilo Hidalgo, é comentarista da Gazeta do Povo, o maior jornal do estado, e da CBN-Curitiba.

Num artigo no site da empresa, escreveu o seguinte: “Com essas eleições ficou claro que é urgente uma discussão honesta e franca acerca da utilização das pesquisas”.

Treino é treino e jogo é jogo — mas esses dados servem para manipular e inflar uma insatisfação, além de alimentar a sensação de instabilidade. O desejo é matar Lula antes de ele entrar em campo.

É muito pouco provável que ele, ou qualquer um, desista por causa disso.

Curiosamente, não há pesquisas, por exemplo, para saber se, atualmente, Geraldo Alckmin venceria. O calendário eleitoral paulista é diferente.