Quem segura a alça do caixão do governo Temer?!

Atualizado em 28 de maio de 2018 às 16:36

Texto publicado no Justificando.

POR FELIPE DA SILVA FREITAS

O momento político do Brasil é dramático. Afundado numa abissal crise política, decorrente da deposição da presidenta Dilma Rousseff por meio de uma manobra constitucional, o país titubeia numa agenda eleitoral incerta na qual o líder nas pesquisas de intenção de voto para presidente da república – Luiz Inácio Lula da Silva – está encarcerado sem provas num processo judicial abusivo e discricionário.

Michel Temer rasgou o capítulo dos direitos sociais da Constituição Federal por meio da emenda 95/2016 que congelou o teto dos gastos da União por vinte anos e corroeu conquistas sociais por meio de uma draconiana reforma trabalhista.

Além disso, Temer dirige o maior colapso econômico de todos os tempos corroendo a renda nacional e pondo em risco a continuidade das mais importantes políticas públicas.

O que sobrou para a defesa de Temer foi uma trupe moribunda liderada por Romero Jucá, Moreira Franco, Eliseu Padilha e Carlos Marun, todos agarrando-se nas pilastras do palácio com medo do povo e sem credibilidade para enfrentar um debate nacional.

Os aliados do governo pulam do barcoa todo momento e restou a Temer escalar Henrique Meireles para a inglória tarefa de representá-lo no pleito eleitoral. Contudo, esta manobra não passa de pirotecnia por parte do governo que segue conversando com PSDB e com DEM e mantendo suas conexões fortes com parte dos apoiadores de Bolsonaro e de Marina.

Apesar dos serviços prestados ao mercado financeiro e do histórico de articulações arrojadas com o Congresso Nacional, Meireles não tem qualquer envergadura para conduzir uma candidatura que dialogue com o país. Será um candidato colateral (caso a sua pretensão se mantenha até a inscrição de chapas) sem capacidade de polarizar o debate e sem qualquer expressão nos palanques do norte-nordeste.

Geraldo Alckmin, Marina Silva e Jair Bolsonaro, candidatos até agora do campo da direita, seguem em dribles retóricos e tentam esconder suas reais articulações, mas não prescindem do apoio de Michel Temer. Eles sabem que Temer, mesmo sem popularidade, ainda manejará a máquina pública federal até 31 de dezembro de 2018 e querem se beneficiar disso para obter vantagens na disputa eleitoral.

Na verdade, apenas Lula, Ciro Gomes, Manuela D’Ávila e Guilherme Boulos estiveram contra o impeachment e na oposição sistemática ao governo Temer desde o período do golpe. Todos os outros candidatos tentam fugir retoricamente, mas terão que carregar consigo o fato de terem participado do governo e terão que prestar contas desta participação. Ou seja, “quem pariu Matheus que o embale”.

Se o consórcio da direita tirou Dilma, salvou Temer, pagou mesada para Eduardo Cunha, blindou Aécio, rasgou a CLT e a Constituição e prendeu Lula, eles é que tem que carregar o peso daquilo que fizeram. São os signatários do impeachment e da base de apoio ao PMDB que têm que explicar como e porquê fizeram tantos horrores até aqui.

A alta do combustível; a desvalorização do salário mínimo; o corte de investimentos nas áreas de educação, saúde e assistência social têm responsáveis evidentes e são eles que terão que vir a público arcar com aquilo que construíram.

Alguém terá que segurar a alça do caixão do governo Temer e o povo brasileiro precisa estar muito atento a este velório no período eleitoral. Que a esquerda tenha inteligência, paciência e habilidade para fomentar o debate sobre esta herança maldita e apontar para um programa que promova o acerto de contas do Brasil com o seu povo.

Felipe da Silva Freitas é doutorando em direito pela Universidade de Brasília (UnB) e membro do Grupo de Pesquisa em Criminologia da Universidade Estadual de Feira de Santana (GPCRIM UEFS).