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Quem vai cuidar dos futuros médicos que fizeram blackface? Por Mauro Donato

 

Alunas de um curso de medicina fizeram uma foto com os rostos pintados de negro durante uma competição universitária no interior de São Paulo e publicaram-na nas redes sociais.

Não era uma brincadeira inofensiva. Os comentários que vieram logo a seguir da hashtag #pestenegra estavam recheados de preconceito. Eram cretinices do gênero “Inclusão social ahahahahahha” ou “Negritudes”.

A publicação provocou a revolta de muitos colegas e usuários do Facebook que estão cobrando uma penalização por parte da Faculdade de Medicina da Uniara (Centro Universitário de Araraquara).

A assessoria da faculdade emitiu uma nota afirmando que “a instituição é totalmente contra qualquer forma de preconceito e racismo” e que irá apurar.

Diante da repercussão, os perfis das alunas estão inacessíveis.

O que a tal foto “blackface” e seus comentários irônicos revelam é algo muito mais amendrontador e não diz respeito somente ao preconceito racial.

Partindo de quem partiu, é nítido o desdém pelos colegas de classes sociais menos favorecidas que passaram a disputar cadeiras na sala de aula nos últimos anos.

Igualmente não é nenhum devaneio supor que as tais blackfaces – mais uma vez levando em consideração serem estudantes de medicina – sejam também uma crítica à contratação de cubanos no programa Mais Médicos. Talvez as jovens tenham ironizado que pintando a cara de preto obtenham mais chances de contratação.

Porém, com a mensalidade do curso na casa dos R$ 4.532,00 certamente essas meninas fazem parte da imensa maioria dos aspirantes à profissão que não irá se engajar socialmente, não aceita trabalhar em comunidades carentes e distantes e para colocar as mãos em preto só se for para tirar fotos.

O que desejam é o retorno financeiro historicamente difundido que a profissão proporciona a uma elite.

Esses são os médicos que teremos no futuro. Mais do mesmo. Com consultórios em bairros nobres e fazendo parte da indústria farmacêutica. Receitando a torto e a direito e pouco inclinados a colocar a mão na massa, se é que me entendem.

Chamem mais cubanos, por favor, porque a coisa aqui vai mal.

 

Mauro Donato

Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

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