Querem proibir o burlesque em Paris

Atualizado em 24 de abril de 2013 às 20:03

Isso seria um absurdo se fosse verdade, não? Mas em São Paulo, estão propondo sumir com os bailes funks.

hoje esta danca incomoda muita gente
hoje esta danca incomoda muita gente

E então sai no O Estado De S. Paulo que dois vereadores propuseram que se proibissem os bailes funks nas ruas da cidade.

O funk carioca é um terreno muito rico para debates. Sempre haverá discussões e discordâncias. Ao mesmo tempo em que pode ser visto como negativamente agressivo por muita gente, pode também ser visto como positivamente provocador por outras.

nos anos 50, esta incomodava
nos anos 50, esta incomodava

Eu não ouço funk por prazer. Acho que nunca ouvi. Mas gosto deste traço provocador. É pesado, às vezes muito pesado. Mas, bem, primeiro que ninguém é obrigado a ouvir. Segundo que arte sempre teve a característica deliciosa de incomodar os conservadores.

Eu te convido para ir um pouco para trás. Segundo o historiador artístico Kenneth Clark, a primeira nudez frontal completa na pintura contemporânea foi feita por Francisco Goya no final do século 18 e chegou a ser perseguida pela inquisição espanhola. Hoje ela é amplamente aclamada e está exposta no Museu do Prado em Madrid. Enquanto isso, os membros eclesiásticos que a perseguiram não são lembrados por nada que não seja pelo conservadorismo tolo.

Algo parecido aconteceu quando surgiu o rock n roll. Naquele momento, os fãs de jazz, que dominavam o mainstream, chamaram de música do diabo. Por coincidência o mesmo havia acontecido há alguns anos com o próprio jazz.

Isso tudo eu digo para notar uma verdade absoluta, da qual não poderemos fugir: o funk carioca estará nos grandes museus do futuro, e seus artistas mais expressivos serão vistos como músicos inteligentes, iconoclastas, corajosos e artisticamente honestos. E quem tentar acabar com eles, ser;a visto como os inquisidores.

este artista foi visto como imoral no século 19
este artista foi visto como imoral no século 19

O que não impede ninguém de desgostar do gênero. Eu reconheço Salvador Dali como gênio, mas sinto desprazer em olhar para seus quadros, por exemplo.

De volta à proposta: foi feita por dois ultra-conservadores. Álvaro Camilo, do PSD, é ex comandante da PM e Conte Lopes, do PTB, ex capitão da Rota. Teve, segundo a reportagem, apoio da bancada do PT, embora o prefeito Fernando Haddad tenha se mostrado contrário à proibição.

E então eu me pergunto: porque bailes funks e não rodas de samba ou festivais de rock?

Todos os elementos mais problemáticos que podem estar presentes nos bailes funks são fruto pura e simplesmente da falta de educação. Quer resolver esses problemas, é só resolver a educação. E nada impede que eles não estejam presentes em outros lugares.

Toda a enorme série de argumentos favoráveis à medida param no muro quando a gente começa a pensar um passinho à frente. Por exemplo, som até as 8h da manhã pode incomodar, claro, seja funk ou música clássica. Vamos tentar controlar o som até as 8h da manhã, oras. Menores bebendo, gravidez na adolescência… bom, é a mesma coisa. Controlemos a entrada de menores em todos os tipos de festas, bailes, casas noturnas. Eduquemos.

Tudo que está presente num baile funk está presente na sociedade. Aquilo é só uma expressão – das mais honestas – da vida das pessoas.

hoje este é
hoje este é

Você pode sumir com o baile funk, mas não vai sumir com as pessoas que os frenquentam. Proibir bailes funks é como tomar novalgina para tratar um câncer. Você pode até conseguir atacar o sintoma por algum tempo, mas, de verdade, não está fazendo nada para resolver aquele problema.