O leitor que “mora bem” já deve ter notado. Durante a noite/madrugada a àgua que sai da torneira se resume a um fio. Ou nem sai.

O diretor da Sabesp, Paulo Massato, afirmou que a empresa vem reduzindo a pressão da água distribuída à noite e que, com isso, obteve uma “economia fabulosa”. Ele nega que isso seja racionamento. “Racionamento significa reduzir a cota de água por habitante, e nós não estamos fazendo isso. O que estamos fazendo é uma redução da pressão no período noturno acompanhando a curva de consumo de cada setor de abastecimento”, declarou.

Não me engana que eu não gosto.

Desde o final do ano passado, o fornecimento de água sofre cortes diários em diversas regiões. Poucos haviam associado o sintoma à causa.

Com a estiagem insistindo em não colaborar, bairros nobres e áreas até então preservadas do transtorno passam a sofrer do mesmo mal.

Não decretado oficialmente pelo único motivo de que admiti-lo seria maléfico para a candidatura de Geraldo Alckmin, o racionamento de água precisa ser adotado de maneira urgente e conscientemente.

A estratégia maliciosa de cortar a água apenas durante a madrugada nos redutos eleitoreiros do governador tucano é duplamente condenável. Pela discriminação, por óbvio, e por induzir boa parte da população de que nada há de errado. Dessa maneira, os hábitos de desperdício daqueles que não sofrem na pele o corte da água (a não ser que tenham ficado sem banho após a balada ou tenham constatado o uso de copos descartáveis a partir de determinado horário nos bares descolados) se mantém. E da-lhe lavar calçadas, carros, animais de estimação, encher a piscina….

Nesta segunda-feira, o nível do sistema Cantareira chegou a 15,8%. O Ministério Público Federal recomendou ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) e à Sabesp que o racionamento deva ser implantado imediatamente.

A Sabesp recusa a orientação do MPF. Afirmou que isso “penalizaria a população”. Qual delas, dona Sabesp? A que já vinha sofrendo os cortes ou a que ainda não sofre?

Os recursos hídricos do sistema Cantareira pertencem à união, que os concede para a Sabesp.

Já Geraldo Alckmin declarou que “pode ser” necessário o uso de uma segunda cota do volume morto caso não chova torrencialmente. Quase a metade da “primeira cota” (seja lá o que isso quer dizer) já foi utilizada.

Água é um recurso finito e estamos experimentando o drama que será a vida na terra quando começar a faltar de maneira mais severa.

Independentemente de um governador fazer o mea-culpa e decretar oficialmente um racionamento ou um órgão administrador/fornecedor abandonar a postura rebelde, a população deve adotar o uso racional de água e luz (sim, cerca de 97% da energia elétrica produzida no país vem de usinas hidrelétricas, portanto o consumo de um recurso agrava a situação do outro) de forma espontânea e permanente.

Rezar para chover também vale, mas aí vai de cada um.

Mauro Donato

Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

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