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Racista com Vinícius, torcida do Valencia tem histórico de alinhamento com a extrema-direita espanhola

Torcedores portam bandeiras com símbolos nazistas. Reprodução

O caso de racismo – Mais um – sofrido por Vinícius Júnior na derrota de seu time, o Real Madrid, para o Valencia, pela 35ª rodada do Campeonato Espanhol, infelizmente não é isolado. Nem na Espanha e nem na torcida do Valencia, cujas arquibancadas de seu estádio, o Mestalla, são um verdadeiro convite ao prazer de células de extrema-direita.

Os principais “ultras” (como são chamados os torcedores organizados na Europa) do clube são os Yomus. E a relação deles com o que há de mais radical na extrema-direita espanhola é umbilical.

Em 9 de fevereiro de 1992, o técnico do Valencia, um então jovem holandês Guus Hiddink, paralisou o início de uma partida contra o Albacete para que os serviços do clube retirassem uma bandeira nazista das arquibancadas do Mestalla. O técnico ameaçou que seus jogadores não começariam o jogo até que aquela faixa com a suástica desaparecesse. Foi a primeira e única vez na história que um treinador do time valenciano questionou a exibição de faixas antidemocráticas no Mestalla.

Bandeira nazista no alambrado do estádio. Reprodução

Na época, Hiddink foi criticado por dirigentes do próprio Valencia, que diziam que ele “não tinha que se meter nesses assuntos”. O treinador foi acusado até de estar “querendo aparecer”. Mas Hiddink disse: “quando vejo essas coisas, não posso me calar. É errado permanecer passivo.”

Curiosamente, esse ato fez bandeiras identificadas com a extrema-direita explodissem no Mestalla. Diversos jovens com pensamentos neonazistas entraram nos Yomus. E ficou cada vez mais comum vermos nos jogos em casa do clube bandeiras identificadas com o nazismo, o orgulho celta e o franquismo. A partir de 1993, foi comum ouvir gritos contra Guillem Agulló, um jovem antirracista valenciano assassinado neste ano por membros da extrema direita valenciana. 

Yomus, facção ultranacionalista da torcida. Reprodução

Os membros do Yomus nunca esconderam suas afinidades neonazistas em tatuagens, cantos e armas com a saudação romana. Nos anos 90 Yomus estava cheio de skinheads, embora com o tempo essas roupas de identificação acabassem se transformando em roupas mais casuais . Não é difícil encontrar na internet fotos e vídeos desses exemplos de sua ideologia dentro de campo e quando o time viaja.

A influência política dos Yomus dentro do clube foi enorme até a recente compra do clube pelo bilionário cingapuriano Peter Lim, que baniu boa parte dos Yomus do Mestalla em 2021. Em protesto, torcedores da curva norte do Mestalla alinhados com a extrema-direita intimidaram torcedores comuns do Valencia que queriam apenas apoiar o seu time. 

Ontem, os gritos deliberados contra um jogador negro foi mais um capítulo de uma arquibancada contaminada por simpatizantes do ditador Francisco Franco e neonazistas. A vítima da vez foi um brasileiro. Mas muitas outros foram e aparentemente ainda serão no Mestalla. E no resto de uma Espanha que não sabe e aparentemente não quer ser um país mais tolerante e igualitário.

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Luan Araújo

Jornalista formado em 2012, morador da periferia da Zona Leste de São Paulo, sambista e corintiano.

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