O universo trash do jornalismo de fofocas

Atualizado em 17 de fevereiro de 2013 às 9:21

A internet está cheia de subjornalistas dedicados a espalhar rumores.

Quando surge na internet um boato sobre uma pessoa famosa, o mínimo que esperamos é que, clicando no link, encontraremos algo polêmico. Eu, que não sou muito ligado em celebridades e seus mamilos que escapam para fora do vestido, de vez em quando acabo lendo uma dessas polêmicas para passar o tempo. Quando envolve homossexualidade, então, confesso que meu dedo escapa e clica mesmo. Polêmica envolvendo homossexual é uma delícia de se ler e, dizem, é a que mais vende.

Existe na internet um submundo que vive desse tipo de notícia. A última delas envolve um “humorista bem famoso e polêmico, casado e pai de família” que teria sido gravado em cenas calientes – sabe-se lá o que é isso – com um garoto de programa.

Ah, o jornalismo do submundo e suas insinuações! Ele nos dá todas as pistas dos envolvidos na história menos os nomes deles, que devemos completar em nossa cabeça, como um jogo de palavras cruzadas. É como se o Estadão dissesse “país que é grande explorador de petróleo e exportador de bacalhau” para depois não correr o risco de ser processado por Odin. Que medo é esse? Não há o que temer; no futuro, todos seremos processados mesmo.

No jornalismo do submundo, difamações e calúnias são a regra, então fica difícil saber o que é verdade aí. De qualquer maneira, essa notícia não deveria gerar polêmica nenhuma. Homossexualidade não é polêmica. E essa matéria não é jornalismo.

Três sinais de você se tornou uma pessoa famosa: 1) recebeu uma nota de repúdio; 2) foi chamado de homofóbico; 3) sua sexualidade foi questionada. O terceiro era o último item que faltava para confirmar a popularidade de Rafinha Bastos.

A saída que ele encontrou em resposta a essa jornalista – que tem fama de maldosa, mora em São Paulo, mas não vive sem praia -, foi a mais apropriada. No vídeo “Desabafo”, que Rafinha Bastos postou no YouTube, ele se aproveita da situação e tira sarro dele mesmo. Não poderia ter feito melhor. Embora eu ache que ninguém precisasse ter visto José de Abreu de roupão branco para entender a piada.

Já dizia Orwell que a função do humorista é destruir a dignidade de quem se leva muito a sério. E que quanto maior a queda, melhor a piada. Mas se de alguma maneira tentaram insinuar a homossexualidade de Rafinha Bastos para atingi-lo, erraram feio; o efeito foi justamente o contrário. Rafinha saiu maior que ele mesmo desse episódio.